I SÉRIE — NÚMERO 62
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Portanto, Sr. Deputado, fazemos o que é importante para que Portugal não fique preso — esse é o sinal —
a um programa de resgate. A única forma de não ficarmos presos a esse resgate, a ter de pedir mais dinheiro
aos nossos parceiros para um novo programa durante mais uns anos, é conseguirmos dispensar a troica e ter
o nosso financiamento em circunstâncias normais. E ajuda a ter esse financiamento em circunstâncias
normais chegar a um bom resultado de negociação com os nossos parceiros europeus.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, também não é surpresa que o senhor
não veja na banca e na especulação financeira internacional os responsáveis da crise que o País, a Europa e,
de certa forma também, o mundo atravessam.
Todos nós já percebemos que, para o Sr. Primeiro-Ministro, os grandes responsáveis são os portugueses e
outros que viveram acima das suas possibilidades — isso já não é surpresa, já conhecemos essa retórica.
Sr. Primeiro-Ministro, repare que, enquanto a dívida do País continua a aumentar, também continuam a
crescer os lucros dos bancos centrais e dos grandes bancos europeus com a compra da dívida de Espanha,
Itália, Portugal, Grécia e Irlanda. Não me venha dizer que estes não são os beneficiários, porque, certamente,
beneficiários não são os portugueses que estão no desemprego há um e há dois anos, que não recebem
subsídio e que estão á beira e na antecâmara da pobreza e da miséria. Esses, seguramente, não são os
beneficiários!
Há 10 dias que se instalou no País como que um «apagão»: não se ouve o Governo, não se ouve a troica,
é como se não existissem; aliás, num contraste muito flagrante com a força com que se ouviu a voz dos
portugueses no passado sábado. Na realidade, isto resulta de, sobretudo o Governo, mas também a troica,
terem medo de dizer aos portugueses o que estão a negociar.
O Sr. Ministro pode ter medo, mas tem a responsabilidade de dizer ao Parlamento e ao País o que está a
discutir e a negociar com a troica. Por isso, pergunto-lhe: o Governo propôs o aumento do salário mínimo
nacional? O Governo propôs o alargamento do subsídio de desemprego? Que corte propôs o Governo no
Serviço Nacional de Saúde e na escola pública? E que corte propôs o Governo nas pensões e nas reformas?
São estas as perguntas às quais o Sr. Primeiro-Ministro pode ter medo de responder, mas tem a
responsabilidade de o fazer.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, o Sr. Deputado João Semedo gosta de apresentar de uma
forma que considero demagógica a posição dos bancos na crise.
O Sr. João Semedo (BE): — Não me diga que é só o BE a fazer isso?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou voltar a responder-lhe com a mesma convicção: quando um País se
endivida, o que se espera desse País é que possa criar condições para se desendividar.
O Sr. João Oliveira (PCP): — E a culpa é de quem trabalha?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Estamos nessa situação e é para isso que estamos a trabalhar. Não nos
sentindo responsáveis pela geração dessa dívida, não podemos ignorar que ela é do País e tem de ser
encarada pelos seus governos. É isso que não só o Estado mas também a sociedade portuguesa estão a
fazer, porque uma parte é dívida pública, outra parte é dívida privada.
O Sr. João Oliveira (PCP): — A responsabilidade é de quem trabalha?!