7 DE MARÇO DE 2013
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, quando referia o objetivo que
o Governo tem de poder encontrar na sua estratégia de retorno a financiamento um perfil para as maturidades
da dívida emitida, neste caso, dos empréstimos que estão associados aos nossos parceiros europeus,
recordou, e muito bem, o pressuposto do nível de cumprimento que o País tem não apenas do seu programa
de assistência mas também da redução do défice estrutural. E isso é importante, porque temo-nos batido para
que as avaliações incidam sobretudo sobre o nível de desempenho estrutural e não tanto sobre o nível
nominal.
O que é que isto significa? Significa que em épocas recessivas, como são as que estamos a viver, há uma
componente do défice que está associada ao pagamento de prestações sociais, em particular do subsídio de
desemprego, e a uma perda de receita não apenas pelo baixo nível de atividade económica, via IRC, mas
também através das contribuições da segurança social, porque se há menos emprego há menos
contribuições. Ora, isso gera um défice que é próprio do ciclo económico e que não se deve ao facto de o
Governo não controlar a sua despesa e entender que, mesmo com a dívida que tem, deve expandir a sua
despesa.
O que tem acontecido em Portugal desde 2010, 2011 e 2012 é que o nosso défice estrutural, descontado o
pagamento da dívida, tem baixado consideravelmente: cerca de 6 pontos no conjunto dos dois anos.
Ora, isso significa que, do ponto de vista da avaliação que é feita pelos nossos parceiros europeus, e isso é
importante porque são as regras europeias que o determinam… A Comissão Europeia, juntamente com os
ministros das Finanças, é que fazem a avaliação de desempenho em termos de avaliação estrutural em cada
Estado e é em função disso que apresenta, no âmbito do Semestre Europeu, as suas propostas.
Quando o Ministro das Finanças português disse que era legítimo conjeturar que, face ao nosso
desempenho, Portugal pudesse ter uma trajetória para o objetivo do défice orçamental que, nos termos do
Pacto de Estabilidade e Crescimento, não deve ser superior a 3% e que, portanto, esse objetivo poder ser
transportado para mais tarde, isso corresponde à leitura de que o desagravamento estrutural está em curso.
Os nossos parceiros sabem que não atingimos o nível do défice não porque não haja vontade, compromisso e
comprometimento do Governo em atingi-lo, mas porque, ciclicamente, não se torna possível ou recolher a
receita fiscal ou evitar a despesa com os subsídios de desemprego. Mas essa é uma solução que
consideramos saudável para as economias.
A maneira que temos de evitar ou de minimizar riscos de espirais recessivas é deixar funcionar os
estabilizadores automáticos — é assim que são designados. Essa é a razão por que nos temos expressado
nesse sentido.
Foi por isso, julgo eu, que no ano passado, na quinta avaliação que teve lugar, Portugal beneficiou dessa
avaliação positiva e foi por isso que não tivemos de adotar mais medidas restritivas, que teriam,
evidentemente, um impacto recessivo, adicional, sobre a economia.
É essa a expetativa que também temos hoje. Mas, para termos essa expetativa, Sr. Deputado — volto a
insistir —, manda o realismo e o bom senso dizer que não podemos deixar de cumprir na dimensão estrutural.
Ora, estamos a cumprir, e é isso que é importante.
Quando se faz referência às medidas que poderiam ser importantes para ancorar expetativas positivas
para futuro, nomeadamente a reforma do IRC, que está ser preparada, ou, eventualmente, a comissão, que
estará a ser empossada, para reanalisar alguns movimentos de entre um «cabaz» de produtos no âmbito do
IVA, ou quando anunciamos a possibilidade de utilizar os fundos europeus como uma alavanca importante
para as pequenas e médias empresas, não atribuídos a fundo perdido, mas, sim, como fundos reembolsáveis,
estamos a tentar ancorar essas expetativas.
Assim, à medida que formos fechando esses dossiers, não deixaremos de os transmitir aos cidadãos e aos
agentes económicos, desde logo às famílias e aos investidores para que eles possam, com credibilidade,
aceitar uma perspetiva de melhores condições para a retoma da economia.
Mas, Sr. Deputado Nuno Magalhães, apesar de não ter feito a pergunta mas porque ela foi reafirmada
ainda há pouco, permita-me que diga que isso não se faz com promessas de aumento da despesa pública,
nomeadamente através do aumento do salário mínimo nacional.
Há pouco, recordei que a Irlanda fez o oposto, quer dizer, cortou cerca de 10% ao salário mínimo nacional.
Nós, em Portugal, rejeitámos essa possibilidade e dissemos que não tínhamos condições para atualizar o
ordenado mínimo nacional, mas que o manteríamos congelado.