I SÉRIE — NÚMERO 73
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A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António José Seguro, o Sr. Deputado trouxe a
este Parlamento, como referi, uma moção de censura que preparou com antecedência e que encenou com
cuidado.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Ora bem!
Vozes do PS: — Oh!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — O Sr. Deputado sabe, evidentemente, que a moção de censura não pode ser
aprovada neste Parlamento, mas isso não retira responsabilidade política na decisão que escolheu de
apresentar essa moção.
O senhor, que tem a aspiração natural de vir a apresentar-se como uma alternativa do Governo, diz ao
País «tenho pressa», «quero eleições, já»,…
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Os portugueses é que mandam!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … «este Governo tem de sair», «este Governo não pode continuar», «o
Partido Socialista precisa de ir para o Governo» e, ao mesmo tempo, apresenta uma lista de generalidades,
em que, grosso modo, o Sr. Deputado garante aquilo que está na carta que hoje divulgou — e que, pelos
vistos, só hoje enviou às instituições da troica —, dizendo: «O meu País necessita de renegociar as condições
do ajustamento, com metas e prazos reais, do alargamento dos prazos de pagamento da dívida, do
diferimento do pagamento de juros, dos juros a pagar pelos empréstimos obtidos, do reembolso dos lucros
obtidos pelo Banco Central Europeu, e sem esta renegociação é irrealista pensarmos em cumprir as metas e
os prazos estabelecidos.»
O Sr. António José Seguro (PS): — Claro!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — O que o Sr. Deputado está a dizer é que cumprirá os compromissos externos
de Portugal se esses compromissos forem alterados. É isso que o Sr. Deputado está a dizer.
Aplausos do PSD.
O Sr. Deputado, portanto, para dentro, faz o discurso do bota-abaixo; para fora, o Sr. Deputado quer dar
uma imagem de responsabilidade. Começa a dizer: «Nós vamos cumprir os compromissos todos…», no
entanto, depois, acrescenta «mas esses compromissos têm de ser alterados porque são irrealistas e não são
cumpríveis».
Sr. Deputado, se essa estratégia tivesse sido seguida pelo Governo desde o início, isto é, desde o primeiro
momento em que o Sr. Deputado começou a defendê-la, como já lhe disse várias vezes, Portugal estaria
como a Grécia há muito tempo. Isso não representa nenhuma alternativa séria, nem para os portugueses nem
para Portugal.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Em segundo lugar, o Sr. Deputado, tendo a responsabilidade de liderar o maior partido da oposição, sabe
que ao apresentar uma sinalização de rutura com o Governo, ao sinalizar ao País e para fora do País que
deseja eleições e, portanto, uma instabilidade que não teria outra consequência que não a de suspender a
execução do nosso programa,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Bem bom que seria suspender essa desgraça!