I SÉRIE — NÚMERO 73
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O Sr. Primeiro-Ministro chegou ao Governo com o discurso demagógico de que os portugueses viviam
acima das suas possibilidades e tudo o que tem feito é destruir as possibilidades dos portugueses e das
portuguesas.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Destruiu 300 000 postos de trabalho! Temos falências e um recuo do PIB
como nunca se tinha visto: um milhão de pessoas sem emprego e sem apoio.
As famosas reformas estruturais de que tanto se gaba são, afinal, mais assalto: despejos mais fáceis,
despedimentos mais baratos, eletricidade mais cara, mais impostos, famílias mais pobres e a dívida não para
de aumentar.
A atuação do Governo na concertação social revela a sua verdadeira face: sabotar o País! O Governo está
a sabotar a subida do salário mínimo nacional na concertação social, uma medida da mais elementar justiça,
como está a sabotar a economia portuguesa.
Este é um Governo empenhado em sabotar Portugal para conseguir a maior transferência de sempre dos
rendimentos do trabalho para o capital, em nome da finança internacional e às ordens do diretório europeu.
Sr. Primeiro-Ministro, podia perguntar-lhe: afinal, quem serve? Portugal ou a troica? As pessoas ou a
banca? Mas, Sr. Primeiro-Ministro, está à vista de todos, e é por isso que este Governo merece toda a censura
de todo o País, que não se resigna.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para formular as suas perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira,
de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, enquanto falava da tribuna, questionei-me sobre se, de facto, estaríamos
diante da mesma pessoa que, há exatamente dois anos, garantia que o subsídio de férias e o subsídio de
Natal eram intocáveis, que se formasse Governo não iria — nem pensar! — tocar nesses subsídios
Aplausos do PCP.
Afinal, foi o que se viu!
Também me questionei sobre se estaríamos, de facto, perante a mesma pessoa que, durante a campanha
eleitoral, garantia ao mundo que não ia aumentar impostos. Afinal, com o seu Governo, Sr. Primeiro-Ministro,
os portugueses ficaram sem os subsídios — sem os dois subsídios! —, assistiram à redução dos seus salários
e pensões e ainda levam com uma carga fiscal nunca vista, a maior carga fiscal de sempre.
Assim não vale, Sr. Primeiro-Ministro! Assim, de facto, não devia valer!
Depois, o Sr. Primeiro-Ministro fala dos sinais positivos — os tais sinais positivos que ninguém vê, que
ninguém sente, que ninguém vive —, falando como se estivesse tudo a correr bem, como se estivéssemos no
bom caminho.
Mas que caminho é este, Sr. Primeiro-Ministro, no qual o desemprego atinge níveis impensáveis e não para
de crescer? 1,5 milhões de portugueses não têm trabalho!
Que caminho é este que deixa um milhão de desempregados à sua sorte, porque o Governo, o seu
Governo, não lhes consegue garantir quaisquer apoios sociais, obrigando milhares e milhares de pessoas a
entregarem as suas habitações à banca?
Que Governo é este que assiste com uma passividade arrepiante ao galopar do número de empresas a
falir?
Que caminho é este que impede cada vez mais pessoas de terem acesso aos cuidados de saúde por não
terem dinheiro, que está a levar cada vez mais jovens a abandonarem os estudos por razões de ordem
económica e que está a generalizar a pobreza e a exclusão social?