4 DE ABRIL DE 2013
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O Sr. Francisco de Assis (PS): — Termino, Sr.ª Presidente, dizendo muito simplesmente que, como é
evidente, esta moção de censura não vai ser aprovada, o que não diminui o seu mérito e a sua importância,
que não é só simbólica. Vai ter, certamente, repercussões na nossa vida política.
Este Governo, infelizmente, porque já não mobiliza ninguém, porque já não desperta vontade alguma,
porque já não consegue concitar o interesse daqueles que verdadeiramente podem e devem fazer reformas
em Portugal, é um Governo cada vez mais póstumo em relação a si próprio.
É o drama do Governo. Mas, infelizmente, também é hoje a tragédia de Portugal.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo, do BE.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: O debate que hoje aqui realizamos revelou um paradoxo político, um paradoxo da nossa vida
política. A maioria de direita consegue derrotar esta moção de censura, mas já não consegue renovar a
confiança no seu Governo.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Muito bem!
O Sr. João Semedo (BE): — Este paradoxo tem um profundo significado: anuncia o fim do Governo. Um
Governo esgotado, um Governo sem soluções, um Governo no fim de linha. Um Governo que esteve aqui
durante quase três horas e não conseguiu mostrar, revelar, orgulhar-se de um só resultado positivo desta
governação de quase dois anos.
Vozes do BE: — É verdade!
Protestos do PSD.
O Sr. João Semedo (BE): — A austeridade expansionista que a maioria de direita garantia ir modernizar a
economia e fazer disparar a competitividade confirmou-se um clamoroso engano, uma enorme mentira.
Dois anos depois, esta austeridade brutal arrasou o País e empobreceu os portugueses como até hoje
nunca tinha acontecido na história de democracia portuguesa. E tudo, Sr.as
e Srs. Deputados, foi
absolutamente inútil: a dívida, supostamente em nome da qual, toda esta austeridade foi imposta, cresceu
mais 17 000 milhões do que o Memorando previa para este ano.
O Governo fez do Memorando o seu programa, a sua cartilha, a sua Bíblia e condenou, assim, o País a
uma espiral recessiva para a qual não tem hoje qualquer solução.
Estas foram as opções de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas. Foram suas estas escolhas, não foram
imposição de ninguém, muito menos do Tribunal Constitucional.
Sr.as
e Srs. Deputados, mais do que discutir hoje a demissão do Governo, que já não governa, a discussão
que se impõe é a das soluções para o País, e este é um debate urgente e inadiável.
O Memorando e a austeridade amarram o País a uma dívida e a juros que não conseguimos pagar. Sair da
crise exige a urgente renegociação desta dívida para que o País possa recuperar os recursos financeiros
necessários ao investimento púbico na economia, no emprego e nas políticas sociais. Mas de nada serve
reduzir os encargos futuros com a dívida se continuarmos amarrados a esta austeridade, que não deixa de
nos empurrar para um poço sem fundo.
Temos de acabar com a austeridade antes que a austeridade acabe connosco e com o País!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Muito bem!
O Sr. João Semedo (BE): — Precisamos de um Governo de confiança dos cidadãos e não de um Governo
de confiança da Sr.ª Merkel.