I SÉRIE — NÚMERO 73
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… e em boa verdade seria difícil que tivesse. Uma coisa é melhorar as condições do Memorando que VV.
Ex.as
subscreveram, obter maior adesão à realidade no faseamento no défice e nas maturidades da dívida,
equilibrar o foco económico com o foco financeiro, apostar no investimento e nas exportações, puxar pelas
políticas que acelerem um tempo de crescimento e de emprego, como, obviamente, Portugal precisa, outra
coisa bem diferente é apresentar uma moção de censura, provocar a interrogação no dia seguinte, dizer, cá
dentro, que acabou a austeridade e correr a escrever ao triunvirato a dizer que cumpriremos todos os
compromissos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Os portugueses já sofreram demais por causa da dívida e do défice, pelo que seria profundamente injusto
deitar a perder o esforço feito e iludi-los com um discurso interno que aponta para a facilidade e um discurso
externo que aponta para a responsabilidade.
O choque aconteceria depressa e a desilusão não seria isenta de consequências para o nosso regime
político.
A penúltima fragilidade desta moção de censura é uma visão parcelar ou incompleta do que são hoje as
dificuldades da Europa e na Europa.
Creio já ter referido que negociar um seguindo programa é negociar, na prática, um segundo resgaste, isso
prolonga a dependência de Portugal. A proposta contém mais riscos do que apostando na credibilidade de
Portugal conseguir no passado, no presente e no futuro, mudar aspetos relevantes do Memorando, mas o
Memorando que termina em 2014 nos seus compromissos essenciais.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — É preciso avaliar os que estão no Governo e
os que estão na oposição. Em que Europa estamos a navegar? Já não é uma Europa em que haja apenas
governos de centro-direita, é uma Europa em que há governos de centro-direita e de centro-esquerda…
O Sr. António José Seguro (PS): — Quantos?
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — … e nem por isso se modificaram pilares
essenciais na visão sobre os países com assistência.
O Sr. António José Seguro (PS): — Não é verdade!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Aliás, vejam bem este exemplo: já não está
em funções uma liderança democrata cristã, aliás amiga de Portugal no Eurogrupo, temos uma liderança
socialista e nem por isso deixou de acontecer o que aconteceu em Chipre.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Risos do PS.
Já não é uma Europa em que haja três países sob assistência e os outros. São muitos os países com
riscos, com problemas, com incertezas, que afetam não apenas os sistemas económicos e a coesão social,
mas também a credibilidade dos sistemas políticos democráticos.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Ou seja, melhorar a Europa não é um tema
maniqueísta, a vida na Europa está difícil para todos os democratas. É muito simplista pensar que basta