5 DE ABRIL DE 2013
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Esta é a vossa visão da cultura.
Termino, Sr. Deputado Miguel Tiago, dizendo que, obviamente, esta questão implicaria um debate muito
mais prolongado. Quero só relembrar (sei que já o disse aqui, mas é sempre bom repetir) aquela que foi a
grande parangona deste Governo: libertar a cultura do Estado. E dizer que, no entanto, a única coisa que
soube fazer foi amputar o País da sua inteligência.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Inês de Medeiros, em primeiro lugar, começo
também por agradecer as questões que colocou. Depois, quero dar-lhe nota da conceção do PCP sobre
algumas das questões que aqui traz.
É verdade que se está a negar o direito ao trabalho, é verdade que, inclusivamente, se está a negar o
direito à criação cultural, à liberdade artística, pela via do estrangulamento financeiro, pela via do
subfinanciamento — e a Sr.ª Deputada descreveu-o bem —, e é também verdade que isso tem impactos nas
estruturas que são absolutamente desastrosos, quer pela dimensão da relação que têm com os trabalhadores
e artistas, quer pelo trabalho que vão poder desempenhar.
Mas não é menos verdade que há uma outra dimensão — e a Sr.ª Deputada não a abordou, mas sei que
ela também está inerente à sua intervenção — que é determinante para o PCP e que é esta: sem esse direito
a criar, sem o direito desses trabalhadores, artistas, criadores e intérpretes poderem realizar a tarefa a que se
predispuseram, nós não temos o direito a fruir aquilo que eles vão produzir, porque não vão produzir. O povo
português ficará impedido de poder ver e fruir a arte e a cultura que estas pessoas, estes artistas e estes
intérpretes deveriam ter liberdade de criar e não têm, porque este Governo, à margem da Constituição, à
margem da lei, lhes nega o financiamento à sua atividade regular.
A Constituição da República Portuguesa, nesta matéria, é muito clara, ao dizer que ao Estado incumbe
assegurar este direito através do apoio às estruturas de criação artística, às autarquias e ao movimento
associativo e popular.
Ora, nenhuma destas dimensões das obrigações do Estado está a ser cumprida, e isso limita não só os
direitos dessas estruturas como, evidentemente, os direitos das populações a terem uma oferta diferente.
É que o que este Governo quer — e aí não estou de acordo consigo — não é acabar com a cultura, é
garantir uma cultura mercantil e uma cultura neutralizante, uma cultura entorpecedora, uma cultura que
justifique a exploração do capitalismo sobre o trabalho, uma cultura que neutralize o raciocínio crítico.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É a cultura que nos entra pela televisão, é a cultura das grandes
distribuidoras de cinema que esmagam qualquer alternativa crítica e independente. É essa cultura que a
direita, PSD e CDS e este Governo, quer impor ao povo, eliminando as expressões livres de criação artística e
cultural, em Portugal.
Posto isto, Sr.ª Presidente, peço-lhe apenas 10 segundos de tolerância para dizer que o PSD e o CDS,
talvez não surpreendentemente, não colocaram qualquer questão, nem tomaram qualquer posição sobre esta
matéria. Às vezes, costumamos dizer que PSD e CDS não têm vergonha em defender o indefensável, nesta
Assembleia. Hoje, tiveram!
Aplausos do PCP e da Deputada do PS Inês de Medeiros.
A Sr.ª Presidente: — A próxima declaração política cabe ao Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quando já nada parecia capaz de nos
espantar no atrapalhado processo de concessões e privatizações, depois de tudo o que aconteceu na TAP e