I SÉRIE — NÚMERO 74
18
É por isso que entendemos que este processo levanta muitas dúvidas, mas aponta-nos uma certeza: o
Governo tratou com os «pés» os Estaleiros Navais do Mondego.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O Governo não respeitou o património histórico daquela empresa, não respeitou
o legado importante da reparação e da construção naval daquele setor nem garantiu a salvaguarda dos postos
de trabalho.
Entendemos, por isso, que é fundamental ouvir — e esperamos ouvi-lo hoje aqui dos Deputados do PSD e
do CDS — que vão desencadear todos os mecanismos que têm ao seu dispor para salvaguardar os postos de
trabalho e para garantir o compromisso da viabilização desta empresa.
A Sr.ª Presidente: — Queira fazer o favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Esta empresa é importante para a Figueira, para a região Centro, mas sobretudo para o País pela
importância do setor da reparação e da construção naval, que tem um papel fundamental no desenvolvimento
económico e social.
Da parte do PCP, é o que continuaremos a exigir.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, creio que conta bem a história
aventurosa dos Estaleiros Navais do Mondego nas mãos de sucessivos governos e de diferentes empresas
concessionárias.
Quanto ao que aconteceu agora, neste último processo de concessão, se um argumentista quisesse criar
uma história mais ou menos mirabolante do que é uma negociata mal conduzida por um Governo deslumbrado
com a ideia de concessão a privados de tudo o que eventualmente possa ser útil, estratégico e interessante na
economia portuguesa não conseguia escrever uma história mais atribulada.
Temos aqui uma empresa que entra no concurso quando ele já estava aberto — ela é criada um mês
depois de o concurso estar aberto — e que tem a participação de uma empresa na área da construção civil
que já tinha problemas financeiros conhecidos desde junho de 2011. Portanto, esta concessão é anunciada,
com pompa e circunstância, pelo Ministro Álvaro Santos Pereira e, agora, no exato momento em que nenhum
dos compromissos que foram assumidos no âmbito da concessão é executado pela empresa, é necessário
perguntar ao Governo: afinal, não exigiram garantias? Não fizeram a investigação? Quais foram os critérios
que estabeleceram neste concurso para a atribuição desta concessão? É que o problema que se põe é o da
viabilidade económica dos Estaleiros — a manutenção dos postos de trabalho e o alargamento destes, a
reabilitação da região Centro e a capacidade de projetar a economia nacional.
Era para esse fim que achávamos que devia existir um Ministro da Economia. Mas não! Afinal, é um
homem deslumbrado, que vai andando de notícia em notícia, de anúncio em anúncio, sem que nada aconteça
no momento seguinte.
É verdade que todo o Governo é remodelável — e, como bem sabe, o Bloco de Esquerda quer a demissão
deste Governo. Mas é incompreensível que, com as notícias que foram tornadas públicas hoje, com as
declarações (quase de caricatura) que foram feitas por estes notáveis empreendedores que ganharam a
concessão, não tenha havido até este momento qualquer esclarecimento por parte do Ministério da Economia.
É por isso que queremos hoje, no Plenário da Assembleia da República, que as bancadas da maioria, que
avançam sempre com a ideia de que o é privado é bom, possam explicar este tortuoso processo de arruinar os
Estaleiros Navais do Mondego.
Aplausos do BE.