I SÉRIE — NÚMERO 76
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O PS fez um conjunto de considerações relativamente às decisões do Tribunal Constitucional, no que
respeita ao Governo e ao Memorando de Entendimento, mas nós temos uma questão central para a qual
queríamos obter um esclarecimento do Partido Socialista.
Para nós — e, acredito, para a grande maioria dos portugueses —, é óbvio que a demissão do Governo é o
primeiro passo para repor o normal funcionamento das instituições, e é um passo que já devia ter sido dado há
muito tempo. Portanto, este Governo não tem qualquer tipo de legitimidade para continuar. Mas, dado esse
passo — da queda do Governo —, que ocorrerá mais cedo ou mais tarde, a questão que se coloca ao Partido
Socialista é esta: qual é o novo programa político de Governo que se propõe para o País? É cumprir o que
está no Memorando de Entendimento — o pacto de agressão, como o PCP chama —, ou entende o Partido
Socialista que está na altura de romper definitivamente com este pacto de agressão?
Para nós é claro: o problema do desastre, do descalabro do nosso País, do ponto de vista social e
económico, decorre deste Memorando de Entendimento, deste pacto de agressão.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira fazer o favor de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Concluo já, Sr.ª Presidente. Porque ele não serve para pagar a dívida,
não serve para resolver os problemas do nosso País; serve, sim, para impor um programa político neoliberal
no nosso País. Pergunto, por isso, se o Partido Socialista está ou não disponível para romper com este
caminho.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Uma vez que o Sr. Deputado José Junqueiro optou por responder
individualmente aos pedidos de esclarecimento, tem a palavra para o efeito.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, agradeço a sua pergunta e
partilho a preocupação — que, aliás, qualquer democrata, independentemente do partido a que possa
pertencer, tem de criticar — de, pela primeira vez em democracia, um Primeiro-Ministro desferir um ataque
feroz contra o Tribunal Constitucional. E o único motivo por que o fez foi porque o Tribunal Constitucional
defendeu a Constituição da República.
Sabemos que há uns tiques do PSD, que já vêm de trás, de pessoas que consideram que para resolver
estes problemas a democracia deveria ser interrompida durante alguns meses. Aliás, a nova liderança do
PSD, desde o início, quis dissolver esta Constituição,…
Vozes do PSD: — O quê?!…
O Sr. José Junqueiro (PS): — … procurando uma alternativa à Constituição.
Como se lembram, em vésperas de eleições, o PSD acabou por desistir dessa mesma revisão, mas está
na massa ideológica, neoliberal desse partido a ideia de combater a Constituição da República.
Por isso, eu partilho: é inaceitável que um Primeiro-Ministro, em democracia, tenha atacado o Tribunal
Constitucional, apenas porque o Tribunal Constitucional defende a Constituição da República.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Também quero dizer que as bancadas do PSD e do CDS foram
suficientemente avisadas da inconstitucionalidade das normas que estavam a aprovar.
Vozes do PS: — Muito bem!