I SÉRIE — NÚMERO 76
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A Sr.ª Ana Drago (BE): — Exatamente!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Há, afinal, o respeito pela toda poderosa Constituição alemã e o
desrespeito pela Constituição Portuguesa? Afinal, que Europa é esta que parece ter países de primeira e
países de segunda, Constituições de primeira e Constituições de segunda?!
Como vê, também, a forma como o Ministro das Finanças, como este Governo se apresenta na Europa? A
nossa opinião é que chega à Europa com completa falta de ambição, quase como se pedisse licença para
entrar nas reuniões ou para ter, até, uma opinião que defendesse os interesses nacionais. Isto, para nós, não
é europeísmo, é submissão. E é isso que nós vemos neste Governo.
Há uma pergunta que se impõe e para a qual peço uma resposta. Todos já percebemos que o Governo
procura álibis para um eventual segundo resgate que possa agora estar a ser negociado, todos já percebemos
que esse segundo resgate é mais do mesmo, mais austeridade, e já ninguém fica satisfeito com a prestação
do PS, porque não responde às inquietações nacionais.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira concluir a sua questão, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Termino já, Sr.ª Presidente.
É como se houvesse um Memorando inicial e, agora, um memorando posterior, desvirtuado e já desonrado
no seu conteúdo. Isso não nos parece ser confrontável com a realidade, porque, de um lado, há a austeridade
inicial e permanente, do outro lado, poderá haver quem queira romper com o Memorando, romper com a
austeridade e, por isso, defender um crescimento para a economia.
O que lhe pergunto, Sr. Deputado, é de que lado é que está o Partido Socialista, do lado daqueles que
defendem o crescimento para a economia ou do lado daqueles que defendem o Memorando, custe o que
custar.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, agradeço as suas
perguntas e compreendo a imagem que utilizou para referir aqui um partido em fuga. Mas quero responder-lhe
que, de facto, encontro o CDS nos corredores, mas não encontro o CDS em Belém, nem encontro o CDS
neste debate.
Gostaria de dizer que, embora o ex-Deputado do CDS António Lobo Xavier tenha criticado como graves as
afirmações feitas por estes funcionários da troica e o CDS esteja em silêncio, sobretudo quando tem uma
liderança que é tão patriótica, às vezes até histriónica nesse patriotismo, a verdade é que estranho muito esse
silêncio. E estranho muito como é que o Ministro das Finanças alemão faz um esforço para dar uma mão ao
Governo e exercer pressão e chantagem sobre os portugueses. Isso é inadmissível!
Um Governo que se reclama da soberania nacional e que anda de emblema na lapela devia ter vergonha e
devia ter reagido a esta ingerência insuportável do Ministro das Finanças alemão na vida interna portuguesa!
Aplausos do PS.
Mais grave e mais chocante do que isso é que um negociador, por parte do PSD na troica, o Dr. Eduardo
Catroga, esteja agora a «sacudir a água do capote». Ele também dizia, na altura — há um ano, em abril —,
que seriam necessários mais 30 000 milhões de euros, mas que não deveria ser o Governo a pedi-los, que
deveria ser a troica a vir cá e, eventualmente, perguntar-nos: «Os senhores não se importam que a gente vos
empreste mais 30 000 milhões de euros?»
Esta hipocrisia tem de acabar e o Governo tem de esclarecer os portugueses sobre esta matéria, porque
isto está tudo combinado. Tudo combinado!