I SÉRIE — NÚMERO 80
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Portanto, depois do exercício de praticamente dois anos, neste gigantesco Ministério, que é um barco que,
pelo excesso de carga, estamos convencidos de que não chegará, seguramente, a bom porto, apresentaram,
finalmente, dois instrumentos que transmitem a opinião e o pensamento político deste Governo relativamente
às políticas do mar. Estou a falar da Estratégia Nacional para o Mar e, agora, desta proposta de bases para o
ordenamento e gestão do espaço marítimo.
A estratégia não é tida aqui, neste momento, como tema de discussão, mas, de qualquer forma, traduz-se,
essencialmente, na revisão de uma estratégia nacional para o mar que o anterior Governo havia aprovado já
em 2006, pelo que, agora, com este documento, pretende-se, no fundo, fazer uma atualização de conceitos e,
enfim, defini-los um pouco mais.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Então, e qual é o problema?!
O Sr. Jorge Fão (PS): — Mas esta nova estratégia não transmite, como se pretendia, nada de ambicioso.
Quanto à outra vertente, que é exatamente esta lei de ordenamento do espaço marítimo, já aqui foram
focadas várias fragilidades e, neste sentido, farei três perguntas à Sr.ª Ministra.
Em primeiro lugar, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia aprovaram, em 12 de março, uma
proposta de diretiva europeia exatamente para regular esta matéria no espaço europeu; a proposta de lei de
bases, do Governo, foi admitida, nesta Assembleia, em 28 de março. Penso que não houve tempo para
articular as duas situações, mas pergunto à Sr.ª Ministra se confirma que houve tempo para ponderar e
articular a proposta de diretiva europeia com uma proposta nacional para esta mesma área.
Uma outra questão que lhe quero colocar, Sr.ª Ministra, tem a ver com o facto de, como já aqui foi focado,
estar muito mal salvaguardada, nesta proposta, a articulação com a legislação de planeamento e ordenamento
do território que já existe em Portugal, como a Lei de Bases de Ordenamento do Território, a Lei da Água, os
POOC (Planos de Ordenamento da Orla Costeira), etc. Isto está visto, mas aquilo que lhe pergunto, Sr.ª
Ministra, é que utilidade foi dada ao trabalho desenvolvido no âmbito do plano de ordenamento do espaço
marítimo, cuja audição pública foi concluída em novembro de 2010. Trata-se de um trabalho com 200 páginas
e um relatório exaustivo, com muito conhecimento e muita investigação realizada, pelo que gostava de saber
que utilidade lhe foi dada no domínio da proposta que estamos hoje a apreciar.
Por último, Sr.ª Ministra, quero colocar-lhe uma outra questão relativa às regiões autónomas. O parecer da
Região Autónoma dos Açores, que a Sr.ª Ministra seguramente conhece, é demolidor, no plano político, em
relação a esta proposta. Todos os grupos parlamentares, do PSD ao CDS, ao Partido Socialista e ao Partido
Comunista, rejeitam completamente esta proposta de lei de bases de ordenamento. Pergunto, Sr.ª Ministra:
como é que pretende corrigir a trajetória para respeitar o estatuto e ter em atenção os pareceres da região
autónoma, para quem o mar é fundamental, em termos de sustentabilidade, de futuro e de desenvolvimento?
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Ministra da Agricultura, do
Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território: Os Verdes, relativamente à proposta que estamos a
discutir, observam que não há qualquer referência à questão da vigilância marítima e a Sr.ª Ministra diz que
essa é uma questão à margem. Com franqueza, não compreendo! Então, a Sr.ª Ministra concebe uma lei de
bases de ordenamento e gestão do espaço marítimo sem que haja qualquer referência à questão da
monitorização e vigilância desse espaço?! Não é possível, Sr.ª Ministra!
Depois, como não podemos falar das coisas do mar em abstrato, coloco-lhe, concretamente, outra questão
acerca de falhas nos meios técnicos existentes, que custaram dinheiro ao erário público e estão avariados. A
Sr.ª Ministra diz que é uma questão lateral a esta discussão e que, depois, numa outra altura, dará essa
resposta.
Lamento, Sr.ª Ministra, e compreendo que gostasse que chegássemos aqui e discutíssemos esta proposta
de lei mais ou menos com uma venda nos olhos, sem olharmos para mais nada, nem sequer para as
capacidades humanas e técnicas para dar resposta a uma parte daquilo que aqui está, nem tão-pouco para a