I SÉRIE — NÚMERO 14
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O Sr. Miguel Freitas (PS): — Não é verdade!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — A questão dos incêndios florestais tem a ver sobretudo com a
responsabilidade pela forma como está feita ou não a operacionalidade dos meios, das pessoas e do
planeamento. Portanto, não se trata de haver um responsável político para determinar esta matéria.
Sr. Ministro, gostaria de deixar algumas notas.
Sabemos que as condições climatéricas não são, efetivamente, o principal problema dos incêndios
florestais (contribuem para ele e, depois, são muitas vezes consequência). O principal problema dos incêndios
florestais é a mão humana, seja por negligência seja por incendiarismo.
Prova disso é o excessivo número de incêndios florestais que começam durante a noite — e, durante a
noite, não ocorrem, seguramente, por causas naturais, mas por causa humana. Porém, a severidade
meteorológica tem também, depois, uma consequência, que é esta: se alguém fizer uma ignição numa mata,
numa floresta, e se houver condições meteorológicas favoráveis à progressão do incêndio, evidentemente que
isso acontece, e este ano foi o caso.
Sr. Ministro, gostaria de lhe pedir, primeiro, se nos pode informar sobre o total de ocorrências no que
concerne ao número de ignições.
Depois, face ao número de ignições e face à área ardida que tivemos, para fazermos um debate o mais
sério possível, gostaria que o Sr. Ministro nos dissesse também qual foi o número de detidos por parte das
forças de segurança durante o período de fogos florestais. É que esta é uma matéria que também teremos de
debater.
Gostaria, pois, que nos pudesse dar aqui esses números.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Ministro da Administração Interna.
O Sr. Ministro da Administração Interna: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Abel Baptista, vou dar os
números, salientando o seguinte: até à apresentação da avaliação, todos estes números são provisórios, na
medida em que carecem dessa avaliação final. Portanto, vou dar os números com esta salvaguarda, como,
aliás, é habitual.
No total do ano, tivemos, até agora, 18 869 ocorrências, o que significou, em números redondos, 140 000
ha de área ardida — este é o último número, já afinado depois da minha vinda à última reunião da Comissão,
onde discutimos esta matéria. Só na fase Charlie, portanto, na fase mais crítica dos incêndios, tivemos 15 002
ocorrências, o que significou, em área ardida, 130 640 ha. No período mais complicado da fase Charlie,
portanto de 15 de agosto a 3 de setembro, tivemos 4657 ocorrências, que totalizaram 63 373 ha de área
ardida.
Se quisermos ver estes dados de outra forma, dou conta do seguinte: no mês de agosto, houve 72 284 ha
de área ardida, portanto 77% do total da área ardida, e com cerca de 52% do total das ocorrências verificadas
durante todo o ano.
Sr. Deputado, relativamente aos números de que dispomos neste momento — números provisórios, insisto
—, este é o retrato muito aproximado da situação que vivemos. Mas, Sr. Deputado, em alguns daqueles dias,
como por exemplo no incêndio do Caramulo, houve coisas espantosas ou, melhor, assustadoramente
espantosas, como esta: num dos incêndios — houve mais do que um incêndio naquela zona do Caramulo —,
entre as 2 horas e as 7 horas da manhã, o incêndio progrediu à velocidade média de 2 km/hora. Tal significa a
tal «tempestade perfeita» de que ouvimos falar os entendidos sobre esta matéria e que consiste no seguinte:
condições climatéricas com vento acima de 30 km/hora, temperatura acima de 30º e humidade abaixo de 30%
originam essa propagação nestes termos. Aliás, vimos isso nas reportagens da comunicação social, com os
populares, muitas vezes, a dizer «nós nunca vimos uma coisa como esta», referindo-se à progressão
galopante que alguns daqueles incêndios tinham, o que era verdadeiramente assustador.
Quanto à outra pergunta que colocou, Sr. Deputado, já tinha dado resposta, mas vou dá-la novamente,
com todo o gosto.