2 DE NOVEMBRO DE 2013
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de um País que vai continuar «ligado à máquina» se continuar a desenvolver a política que tem vindo a ser
desenvolvida.
Do ponto de vista psicológico, o Sr. Primeiro-Ministro também tenta apresentar o Orçamento para 2014
como se fosse uma espécie de último sprint, a última corrida, a última colher da sopa, como quem diz: vá lá,
vamos terminar, porque, depois tudo será diferente!…
Bom, o que podemos concluir é que o Orçamento para 2014 é péssimo, mas precede um Orçamento ainda
pior. E porquê? Porque não só o Governo prevê o aumento do desemprego como aquilo que está contratado
do ponto de vista do défice para 2015, ou seja, 2,5%, não é passível ser executado sem mais um programa de
austeridade fortíssimo, até porque não tem credibilidade aquilo que o Governo pensa poder ser o
desenvolvimento da procura interna e o crescimento da economia no próximo ano. Não tem credibilidade, está
afastado do pensamento dos principais economistas do País e do estrangeiro! E basta ler na imprensa
internacional da área económica todas as consequências que podem vir a ter para o nosso País não a
sustentabilidade da dívida soberana mas uma dívida privada, que tem vindo a aumentar e a condicionar
extraordinariamente a situação do País.
Portanto, este é um Orçamento péssimo antes de outro pior. É com isto que temos de confrontar o País, os
cidadãos, as cidadãs, todos nós, para termos uma resposta social e uma resposta política necessária a um
novo curso, porque este, de ir de programa de austeridade a programa de austeridade, só nos vai levando a
um beco sem saída.
Tudo isto também nos conduz a uma certa reflexão sobre a verdade das coisas.
O Sr. Primeiro-Ministro admitiu aqui, no debate deste Orçamento, algo que ainda não tinha admitido, ou
seja, que realmente falhou um conjunto de garantias que deu às eleitoras e aos eleitores sobre não cortar
pensões, sobre não cortar salários. Falhou essas garantias, mas falhou-as em nome de quê, segundo ele? Em
nome de um desígnio maior: tinha um programa de ajustamento para cumprir, e isso levou-o a incumprir todas
essas garantias que tinha dado aos cidadãos e às cidadãs.
Ora, neste ponto queria dizer, sem qualquer exegese moralista, que, na realidade, o que o Sr. Primeiro-
Ministro fez foi pôr-se como um pequeno soberano a quem Maquiavel aconselhou que os meios podem ser
quaisquer uns, que os fins justificam os meios. Esta é uma atitude de falta de respeito pelos eleitores, de falta
de respeito pelo verdadeiro soberano, que é o povo!…
Aplausos do BE.
É uma absoluta falta de respeito pelo povo!… Deveria ter tirado a ilação de que fugiu à legitimidade
democrática que lhe foi confiada, que violou o contrato eleitoral. Mas não tirou essas consequências!
Verdadeiramente insultuoso é achar que isso é patriótico! Porque patriotas seremos todos nós, mas não
aceitamos a violação do contrato eleitoral, a burla aos eleitores e o incumprimento da palavra dada.
Noutras matérias, sobre a verdade das coisas e a credibilidade, na sua carta de demissão, dizia Vítor
Gaspar que um conjunto de desvios em relação aos objetivos proclamados tinha minado a sua credibilidade
enquanto ministro das Finanças. Mas não minou só a credibilidade de Vítor Gaspar, minou a credibilidade de
Passos Coelho! Mas, disso, Passos Coelho não retirou nenhuma ilação, nem sequer a contrastou aqui com as
oposições e com o Parlamento do País.
A credibilidade de Vítor Gaspar estava minada e a credibilidade de Passos Coelho está minada. E essa
credibilidade minada é a credibilidade minada do Orçamento do Estado para 2014. É isto que se sabe na rua!
É isto que sabe a opinião pública!
Aplausos do BE.
Ainda sobre a verdade das coisas, Sr. Primeiro-Ministro, a carta que dirigiu a Barroso, a Draghi e a
Lagarde, em 3 de maio, dizia muito claramente que as medidas elencadas de redução de despesa eram
medidas permanentes de redução da despesa pública.
Pergunta-se hoje, no âmago deste debate, quem quer o Sr. Primeiro-Ministro enganar falando em cortes
pontuais e na transitoriedade de algumas medidas. Não, a carta é expressa! São medidas permanentes!