2 DE NOVEMBRO DE 2013
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O País vive, de facto, há três anos com uma economia de guerra, ainda que não se dispare um tiro. Ao
povo foi imposto um verdadeiro esforço de guerra com o esmagamento de direitos, o roubo de salários e
pensões, o desemprego, a pobreza e a emigração.
Protestos do Deputado do CDS-PP João Serpa Oliva.
E o que este Orçamento anuncia é que essa guerra não tem fim próximo. O projeto político do Governo não
está plenamente concretizado nem é temporário.
Apesar do empobrecimento generalizado com que reduziu os custos do trabalho e das condições que já
criou para que a riqueza nacional se concentre cada vez mais nos cofres de um punhado de grupos
económicos e financeiros, o Governo quer um Estado configurado à medida desses interesses; um Estado que
assegure esse controlo da riqueza por uma meia dúzia de poderosos e que tenha condições de impor a
exploração de quem trabalha, negando os direitos económicos, sociais e laborais aos trabalhadores e ao povo;
um Estado incompatível com a nossa Constituição e a democracia.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — E são o próprio Governo e a maioria que afirmam que esse não é um projeto
conjuntural.
De cada vez que o Governo e a maioria afirmam que não se podem desperdiçar os sacrifícios já feitos, que
com a suposta saída da troica e o fim do pacto não podemos voltar ao desgoverno em que vivíamos antes, o
que querem dizer é que os cortes são para manter, que o desmantelamento das funções sociais do Estado é
para continuar, que o agravamento da exploração e das desigualdades é o verdadeiro desígnio nacional da
sua política.
Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr.as
e Srs. Membros do Governo: O debate deste Orçamento do
Estado para 2014 confirmou o falhanço em todos os objetivos que justificaram a assinatura do pacto da troica
e comprovou que esses objetivos eram apenas a fachada para um programa político de fundo que os
subscritores do pacto continuam a querer esconder.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Há dois anos e meio o pacto era assinado em nome da redução da
dependência externa, do endividamento e do défice, em nome de reformas estruturais inadiáveis, em nome do
combate à recessão e ao desemprego.
No debate deste Orçamento, confirmou-se que nenhum desses objetivos foi atingido sem que isso tenha
sido motivo de preocupação para o Governo. Teremos, em 2014, um País mais dependente do exterior em
termos financeiros e em termos económicos.
O Governo e a maioria que defendiam o pacto para pôr fim ao endividamento propõem-se continuar a
aumentar a dívida em 2014 para mais de 200 000 milhões de euros.
Depois de sucessivas revisões por incumprimento dos limites do défice acordados com a troica, o Governo
propõe para 2014 um limite de 4%, objetivo tão irrealista que ontem, na falta de qualquer outro argumento,
acabou por ser sustentado pela Sr.ª Ministra das Finanças apenas com a sua própria profissão de fé.
Em matéria de reformas estruturais, também neste debate se confirmou que a única reforma que o
Governo pretende e sabe fazer é despedir, cortar, empobrecer, desmantelar, destruir.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — A reforma do Estado, apresentada pelo Vice-Primeiro-Ministro, Paulo Portas,
em letra de tamanho 14, espaçamento duplo e muito espaço entre parágrafos, é exemplo disso.
O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!