I SÉRIE — NÚMERO 20
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Assim sendo, as privatizações são, sim, sim, opção ideológica da direita, escolha social, escolha política:
aumentar os lucros aos setores privados!! Cubram-se com o programa da troica ou com qualquer outra
orientação geral, mas é essa a escolha e está feita!
Tentar dizer que aqueles que defendem os serviços públicos têm uma opção ideológica empedernida é
«tapar o sol com a peneira», porque, na verdade, o que há é uma tentativa de reversão da propriedade dos
serviços públicos em Portugal!
Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, nós apresentamos uma proposta para renegociação dos
juros da dívida, da dívida pública, entenda-se. A isto a direita tem respondido de duas formas: uma de que
queremos uma renegociação unilateral… Bom, nós o que apresentamos neste artigo, basta não o tresler, é
uma agenda de discussão com o Sr. Draghi, no Ecofin, no Conselho, acerca de juros próximos daquilo que
são as taxas de referência que o Banco Central Europeu pratica com a banca privada!
A segunda objeção que tem sido levantada é a de que esses juros serão já baixos em comparação com os
juros que estão a ser aplicados nos mercados de privados. Bom, mas o que nós queremos e o que nós
devemos exigir, abrindo até caminho a que o BCE pudesse ser um banco de reserva, é que haja uma redução
dos juros, substancial redução dos juros, para que consigamos fazer frente às necessidades de investimento
público, de relançamento da economia, de garantia de que não há cortes nas pensões, de que não há cortes
nos salários! É para uma outra política que é preciso esse corte de juros, não vale a pena é ficar
unilateralmente humilhados, unilateralmente de joelhos, sempre aplicando aquilo que a troica exige, sempre
aplicando aquilo que os funcionários nos vêm dizer a Portugal, embora sempre lamentando que os
responsáveis políticos nunca deram a cara pelas imposições constantes que a direita, o CDS e o PSD, têm
constantemente aceitado aos funcionários da troica!!
Dessa imposição unilateral não se queixam em Plenário, pois o que vêm é tentar agitar a confusão,
dizendo que a esquerda, que a oposição quer uma renegociação unilateral que estará fora dos tempos e da
realidade.
Não! Nós estamos é fora do servilismo que tem sido imposto ao País pela direita e por este Governo!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Hortense Martins.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado das Infraestruturas, dos
Transportes e Comunicações: Este processo não pode ser um processo «à vontade do freguês»!! Este
processo tem de ser um processo transparente e o Sr. Secretário de Estado não pode vir aqui, ao fim de dois
anos, dizer que é agora que vai fazer a lei e a lei nunca mais aparece porque, entretanto, a sua pressa é
privatizar e fazer as privatizações ad hoc!…
Ora, isso não é aceitável, porque a lei que foi aqui aprovada é uma lei de salvaguarda do interesse
estratégico nacional e foi consensual. O Sr. Secretário de Estado não falou com o PS sobre esse assunto…!
Pronto, essa questão não interessa, apesar de ter sido um momento de consenso, mas agora que tanto se fala
em consenso isso já não importa para nada, porque o que importa é a pressa em fazer as privatizações,
sobretudo, daquilo que dá lucro!
Aplausos do PS.
Sr. Secretário de Estado, eu queria ainda dizer-lhe, a si e às bancadas da maioria, que o PS sempre teve
uma posição muito clara sobre este assunto, uma posição que exige transparência do processo e salvaguarda
do interesse nacional — sempre assim foi e sempre assim será! —, mas o que está aqui em causa não é isso.
Relativamente à questão dos pagamentos, o que está a acontecer sobre o atraso no pagamento por parte
do Estado é que a economia continua a afundar, porque as falências continuam a acontecer por culpa do mau
pagador que é o Estado. E o que é que a maioria faz? Chumba a nossa proposta! Ora, isso não é aceitável e
além disso do mais a Lei dos Compromissos e dos Pagamentos em Atraso, que é vossa, deu em nada, foi
apenas «uma lei para troica ver».