I SÉRIE — NÚMERO 23
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Portanto, a nossa pergunta, Sr. Secretário de Estado, é esta: onde é que estão hoje as suas preocupações
de poupança que estavam tão presentes em 2011, quando a dívida pública era bastante mais baixa do que é
hoje?
Lembro ao Sr. Secretário de Estado um texto que escreveu cujo título era: «Será que é a dívida que nos vai
matar ou somos nós que vamos matar a dívida?» Por este caminho, claramente, Sr. Secretário de Estado, é a
dívida que nos está e vai matar!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Sr.
Secretário de Estado, se em 2010 era urgente a renegociação da dívida, hoje, que há mais dívida e menos
economia, o senhor, curiosamente, até acha que o País já se pode dar ao luxo de negociar, de empurrar a
dívida para mais tarde com custos maiores!
Portanto, para si, se na altura era preciso renegociar, hoje, em piores condições, o País até já se pode dar
ao luxo de «fazer uns fretes» aos credores!
Com isso, Sr. Secretário de Estado, hipoteca o futuro das atuais e das futuras gerações de trabalhadores
no nosso País.
Nesta intervenção, que certamente será a última por parte do PCP, gostaria ainda de dizer que o que nós
propomos não é uma renegociação unilateral dos termos, montantes, juros e prazos da dívida, é, sim, aplicar o
que já resultou de outras negociações no passado, noutros casos, que é impor ao Governo que não possa
negociar além do interesse nacional, que não possa sacrificar o interesse nacional ao interesse de outros. É
impor ao Governo que, antes das dívidas e dos juros negociados para beneficiar os credores, sejam
assegurados os pagamentos dos salários, das pensões, das funções sociais do Estado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Trata-se de hierarquizar e de priorizar as principais tarefas do Estado e
permitir que o Governo negoceie, nesses termos, a dívida pública.
Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro, Srs. Deputados, toda a argumentação do Governo sobre o sucesso
desta operação e sobre o sucesso das suas políticas assentou, única e exclusivamente, em dois pilares: a
normalidade da operação e a defesa do interesse nacional.
Sobre a defesa do interesse nacional, Sr.ª Secretaria de Estado, há que perguntar: de quem? Trata-se de
defender o interesse nacional dos banqueiros, dos especuladores? Ou o interesse dos trabalhadores e dos
portugueses? É que não são interesses iguais: quando uns pagam os outros recebem, e esse é um interesse
suficientemente antagónico para não podermos pôr tudo no mesmo saco.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Quanto à normalidade, está explicado como é que o País chegou até aqui,
porque há governos que acham que é normal contrair dívida, fazê-la rolar para depois, pagando mais juros,
fazendo fretes aos grupos económicos e aos banqueiros.
E é precisamente por força de nos virem aqui dizer que é normal que mais urge acabar com essa
normalidade. É urgente acabar com essas políticas que já vão considerando normal a ofensa direta ao
interesse nacional, e isso será garantido pela rejeição do pacto de agressão e, quanto antes, pela demissão
deste Governo.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Afonso Oliveira.