I SÉRIE — NÚMERO 23
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Srs. Deputados, a Mesa faz um apelo para que, tendo em conta o adiantado da hora, sejam respeitados os
tempos.
Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim para formular o seu pedido de esclarecimento.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Fão, hoje de manhã, na
Comissão de Defesa Nacional, o Sr. Ministro da Defesa Nacional fez um apelo para que neste debate existisse
algum pudor. Pelos vistos, a falta de memória ou, melhor dizendo, a memória seletiva que V. Ex.ª manifestou
na sua intervenção acabou por tornar inútil, pelo menos para já, este apelo do Sr. Ministro da Defesa.
Deixe-me dizer-lhe, Sr. Deputado, que há algo que me espanta, não apenas nesta sua intervenção mas em
muitas outras que, infelizmente, temos ouvido nestes últimos tempos.
A responsabilidade sobre a situação dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo tem de ser partilhada por
todos, nomeadamente por aqueles que tiveram responsabilidades governativas nos últimos anos e por
aqueles que nomearam administrações, muitas das quais tomaram decisões absolutamente ruinosas, que não
tiveram em conta os destinos daquela unidade empresarial e muito menos o destino dos trabalhadores que lá
estão.
Ora, aquilo que é curioso, e me causa uma enorme perplexidade, é não ouvirmos, nem da parte do Sr.
Deputado nem da parte do partido que representa, a mínima assunção de responsabilidades, de culpas,
quando sabemos que a responsabilidade, a quota-parte de responsabilidade, do Partido Socialista e das
administrações por ele nomeadas é enorme, é fundamental.
Nós, no PSD, estamos dispostos a esclarecer tudo aquilo que tenha de ser esclarecido, seja na Comissão
de Defesa Nacional ou em qualquer outro lugar, neste Parlamento. Estamos dispostos a esclarecer e estamos
dispostos a assumir as nossas responsabilidades. Seria bom que o Partido Socialista, e o Sr. Deputado em
particular, também o fizesse uma vez que fosse, ainda que essa manifestação fosse também peregrina.
Falou o Sr. Deputado num plano de reestruturação. Desculpe lá, não conheço!… Aquilo que vi quando
cheguei aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo foi uma empresa moribunda, uma empresa governada por
um conselho de administração com vontade de «morrer», que dizia, a quem queria ouvir, que aquela empresa
já devia ter fechado há muito tempo, que denegria os trabalhadores que lá estavam. A comissão de
trabalhadores da altura sabe bem que isto é verdade!…
Aquilo que sabemos é que se trata de uma empresa que dava prejuízo constante. As encomendas feitas
aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo foram de empresas financeiramente ruinosas. Neste momento, os
Estaleiros Navais de Viana do Castelo custam ao erário público, custam ao contribuinte, 110 000 € por dia.
Este Governo, desde que tomou posse, depois de acabar com essa farsa que foi o plano de reestruturação,
que era o plano de afundamento final dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, tentou todas as soluções
para que a atividade de construção naval permanecesse em Viana do Castelo e para que os direitos dos seus
trabalhadores fossem assegurados.
Vozes do PCP: — Nota-se!…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — E isso, Sr. Deputado, posso garantir-lhe que está assegurado e
que vamos conseguir.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — O que conseguiram foi destruir!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira concluir, Sr. Deputado, peço-lhe que termine.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Termino, Sr.ª Presidente, apelando ao Partido Socialista para que
se responsabilize pelo desastre do navio Atlântida, da responsabilidade do Governo nacional de então, do
Governo dos Açores do Partido Socialista.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, queira concluir.