I SÉRIE — NÚMERO 23
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caieiro): — Tem a palavra, Sr. ª Deputada.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, trata-se de uma interpelação à Mesa sobre a condução dos
trabalhos no sentido de solicitar à Mesa que peça ao CDS o texto do acordo que foi assinado mas que ainda
não é público.
Ainda não foi possível conhecer o texto do acordo, mas, uma vez que foi aqui tantas vezes invocado, peço
que o mesmo seja distribuído a todas as bancadas.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada Rita Rato, julgo que só os interpelados é que saberão
se dispõem desse documento.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, peço a palavra.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, peço a palavra no mesmo sentido, para informar que
nós lemos jornais — são vários, não é só um, e de várias cores, de resto — e o Sr. Deputado Michael Seufert
falou exatamente do que está nos jornais, e que é público, que é a existência de um entendimento. Ora, um
entendimento é isso mesmo: um entendimento entre duas partes que querem conversar. Percebemos, ou
melhor, não percebemos, mas compreendemos o incómodo de certas forças políticas que não gostam de
entendimentos, nem de diálogos, nem de consensos. Mas essa é outra conversa!
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, penso que fica assim ultrapassada esta questão.
Tem a palavra, para uma declaração política, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Muitas vezes, o PCP tem denunciado
a política de sucessivos governos, que têm promovido a reconstituição dos grupos económicos monopolistas,
entregando novamente setores estratégicos às oligarquias do antigamente.
Mas é preciso dizer com todas as letras que, no que concretamente diz respeito aos CTT e ao serviço
público postal, este Governo atreve-se a ir mais longe do que foi a própria ditadura fascista: pela primeira vez,
em cinco séculos de história, os Correios são entregues aos interesses privados dos grupos económicos.
Com foguetório e trombetas, foi anunciada para esta semana a estreia bolsista dos CTT, ponto alto da
privatização, um obsceno espetáculo de enriquecimento de alguns à custa do empobrecimento de quase
todos.
A suprema honra da entrada no PSI 20 promete-se para março. A venda da totalidade da empresa brilha
no horizonte. Os investidores internacionais posicionam-se como grandes acionistas, ou seja, passam os
Correios para as mãos de grupos estrangeiros.
A propaganda deste processo foi nada menos que uma provocação e um insulto. Os Correios, que são do
Estado porque o seu dono é o povo, são desta forma roubados aos portugueses e os portugueses são
convidados a comprar ações na bolsa da empresa que lhes é roubada.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Estaremos perante uma política de verdadeira traição do interesse nacional e
de ataque às condições de vida dos trabalhadores e populações.
No plano das contas públicas, o Estado perde as receitas dos dividendos que deixa de receber e perde
ainda receitas fiscais, agravando o défice orçamental. Mas, mais que isso, perde o comando do controlo
estratégico de um serviço público que é um fator fundamental de desenvolvimento e qualidade de vida, de
coesão territorial na ligação às regiões, tantas vezes o último serviço que restava nas povoações e o único
contacto regular que tinham populações isoladas e abandonadas por sucessivos governos.