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I SÉRIE — NÚMERO 23

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interesses privados, que estão interessados em apoderar-se dos Correios, esta é uma oportunidade que

aparece uma vez na vida.

Este é um negócio absolutamente irrecusável e é um excelente e atrativo negócio para os interesses

financeiros especulativos, para os grupos económicos, mas para o País e para o povo é um negócio ruinoso. E

até para os pequenos investidores, que poderão ter ficado entusiasmados com aquela publicidade lamentável

que surgiu nestas últimas semanas a apelar a que todos nós emitíssemos a nossa ordem de compra ao banco

para investir na compra de ações desta empresa, que nos está ser roubada a todos, aqueles que se

entusiasmaram com essa publicidade, dizia eu, possivelmente poderão estar a colocar-se numa situação

semelhante às que se verificaram no passado com outras privatizações, em que o engodo do capitalismo

popular serviu para que 99% do capital das empresas ficasse nas mãos dos grandes acionistas, que é o que

acontece no nosso País.

Portanto, o que temos é uma operação em que, eventualmente, o pequeno investidor e o capitalismo

popular servem de alibi para entregar uma fatia fundamental da nossa economia, da coesão territorial e até da

soberania do nosso País a interesses privados que têm a agenda do máximo lucro e a ele poderão submeter

matérias fundamentais para a vida das pessoas, nomeadamente funções do Estado e da Administração

Pública. Disso são exemplos a caixa postal, via CTT, que nos termos da lei é obrigatória para todos; a emissão

de dívida pública pelos certificados de aforro; o pagamento de impostos por parte dos contribuintes; o

levantamento de pensões de reforma… Estas são funções que a administração do Estado entrega aos

Correios e que vão ficar nas mãos dos grandes investidores estrangeiros que hão de comprar os Correios.

Isto é um escândalo nacional, Srs. Deputados, e nunca poderá deixar de merecer a mais veemente

oposição e luta de quem defende o interesse do País!

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo

Figueiredo.

O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, em primeiro lugar, quero

saudá-lo, não só pelo tema que aqui trouxe, mas, acima de tudo, pelas iniciativas que anunciou e que o

Partido Socialista terá todo o gosto em apoiar e participar.

Como já vem sendo dito neste debate e em vários outros debates, os CTT são uma empresa reconhecida,

uma empresa que dá lucro, que nunca esteve previsto privatizar a 100%.

Mas nós podemos ver aqui um padrão nas privatizações e concessões em geral e nos CTT também; é o

padrão de um Governo que tem estado «fora de lei» em termos de privatizações e de concessões. É que, há

26 meses, aprovámos aqui uma lei-quadro das privatizações que dizia que o Governo tinha um prazo curto

para legislar sobre a salvaguarda dos interesses estratégicos nacionais e passaram-se 26 meses e o Governo

incumpriu. Até que pareceu na semana passada um comunicado do Conselho de Ministros a dizer que ia

legislar para salvaguardar os interesses estratégicos nacionais. E em que áreas? Na área da energia, foi o que

se viu na privatização; na área das comunicações, estamos a ver o que está a acontecer com os CTT; na área

dos transportes, são as privatizações e as concessões anunciadas… É uma fúria de privatizações, é uma fúria

de concessões, são as novas PPP deste Governo — devem ser as boas PPP —, e, muitas vezes, na

esmagadora maioria das vezes, por negociações particulares e ajustes diretos.

Nesta matéria dos CTT há vários temas que nos preocupam, sobre os quais gostávamos de saber a

opinião do Sr. Deputado Bruno Dias. Desde logo, sobre o que pensa que o Governo vai fazer com os 30%

remanescentes. Nós achamos que não deviam ser alienados, mas o Governo já anunciou essa alienação na

discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2014, mas esperamos que não seja, mais uma vez,

um negócio particular, um ajuste direto para alguém controlar a empresa.

Que negócio é este das Lojas do Cidadão, onde temos uma descoordenação total entre o que fazem o

Ministério da Economia e o Ministério das Finanças e aquilo que o Ministro Poiares Maduro anuncia? Será que

o Estado ainda vão pagar aos acionistas privados por algo que não salvaguardou neste processo?