5 DE DEZEMBRO DE 2013
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Afinal, a escola pública de Portugal conseguiu que um País que chegou ao 25 de Abril com 30% da
população analfabeta tenha, hoje, melhorias notáveis na área da qualificação da sua população, ultrapassando
um país como a Suécia que, no virar do século XIX, registava já 100% de escolarização da sua população.
Vejam bem onde leva esta obsessão do cheque-ensino e o exemplo que é a própria OCDE a registar.
Do nosso ponto de vista, este Governo está assim perante um enorme problema: nenhum dos argumentos
com que construiu a subida ao poder dos ideólogos da direita bafienta da educação encontra sustento nas
análises internacionais ao sistema. Os dados do estudo PISA têm essa particularidade: desmentir o
argumentário de Nuno Crato sobre a falta de qualidade da escola pública.
Recorde-se que Crato e companhia disseram — e escreveram livros, que, aliás, que venderam bastante! —
que o «eduquês» iria criar uma geração de alunos sem capacidade para entender os textos mais básicos,
mas, afinal, as competências de leitura subiram; disseram, ainda, que o facilitismo iria fazer com que os
melhores alunos descessem os seus resultados e fossem seriamente prejudicados, mas os melhores e os
piores alunos melhoraram, afinal, o seu desempenho. O Ministro enganou-se? O Ministro desconhece a
realidade? Não! Na verdade, o Ministro quis enganar, porque é neste engano que radica a força do seu
argumentário na defesa de uma escola elitista e no favorecimento do ensino privado.
Eis que o facilitismo revogador de Nuno Crato fica exposto pelos seus maiores inimigos: a realidade e o
ridículo. Veja-se o que vale hoje, então, a bandeira da prova para os professores e professoras contratados.
Este Governo cortou 600 milhões no ensino básico e secundário, só a estes níveis — vamos ter menos de
metade da média europeia de investimento em educação —, mas, entretanto, ia arranjar uma forma expedita
de encontrar umas receitas muito rápidas, pondo professores e professoras a pagar 20 € pela prova, mais 15 €
por cada prova extra. Qual era a intenção? A intenção era humilhá-los, não era outra, senão esta: humilhar
professores contratados, desautorizando a sua formação profissional, ignorando que estes profissionais
fizeram parte do processo de melhoria dos resultados da escola pública.
Hoje — dizem-nos —, o Ministro recuou um bocadinho. Falam-nos de um acordo que, afinal, ninguém
conhece, pretendendo agora, pelos vistos, dividir para reinar: afinal, esta prova é só para aqueles que têm
menos de cinco anos de serviço docente. Qual será a intenção? É a mesma, ou seja, é castigar professores e
professoras com menos de cinco anos de serviço, como se tantos destes profissionais não tivessem até mais
qualificações do que muitos e muitas colegas com mais experiência de ensino.
Seria uma decisão ridícula, se não tivesse uma forte dose de perversão por detrás. Os professores e as
professoras, Srs. Deputados e Sr.as
Deputadas, bem como a escola pública, já deram provas de que
dispensam o aventureirismo e o radicalismo ideológico das políticas para a educação desta direita.
Desmentido pelos dados do PISA, na sua campanha contra a falta de qualidade da escola pública,
contraditado pela luta de professores e professoras, nesta caricatura de prova que tentou impor sem sucesso,
a porta de Nuno Crato só pode, afinal, ser uma: a da saída.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada Cecília Honório, inscreveram-se três Srs. Deputados
para pedir esclarecimentos.
Tem a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, é bem importante o tema que
aqui traz hoje, em declaração política: a defesa da escola pública de qualidade para todos. É que, nos dados,
pese embora os avanços que revela, persistem sinais, ainda assim, graves e significativos da taxa de
abandono e insucesso escolar, sobre cujo impacto importa refletir. E importa refletir, porque, se é verdade que
este Governo faz orelhas moucas ao apelo das associações de professores de Matemática, também é
verdade que aquilo que conhece são programas curriculares do antigamente, do tempo em que se desligava a
realidade concreta do pensamento crítico,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!