I SÉRIE — NÚMERO 23
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A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … do tempo em que a escola pública não tinha um papel de emancipação
individual e coletiva.
A escola pública de qualidade para todos e o alargamento da escolaridade obrigatória exigem exatamente
o contrário de tudo aquilo que este Governo faz à escola pública, que é o seu desmantelamento. Exigem mais
meios materiais e humanos, desde logo, mais professores e turmas mais reduzidas; exigem mais psicólogos
para combater aquilo que são hoje fenómenos importantes, a que a escola, todos os dias, tem de responder;
exigem mais funcionários que um ensino individualizado, conforme está consagrado na Lei de Bases, mas que
os sucessivos governos não têm vindo a concretizar.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Esta estratégia política de desmantelamento da escola pública para
favorecimento da escola privada é uma opção ideológica de fundo deste Governo, bandeira do cheque-ensino,
que era do CDS e foi agora adotado pelo PSD, com a mesma vontade, mas que, na prática, significa fazer
corresponder às elites económicas as elites intelectuais, dizer que quem não tem dinheiro não tem direito a
estudar no ensino superior, quem não tem dinheiro não tem condições para ter explicações, quem não tem
dinheiro não tem direito a manuais escolares, e há hoje, ainda, na escolaridade obrigatória, alunos sem
manuais escolares.
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Este caminho de destruição da escola pública tem de ser travado e é um
caminho que, agora, com este novo sinal da prova de ingresso, é mais uma vez uma humilhação daqueles
que, ao longo dos anos, têm dado o melhor de si, daqueles que não têm vontade de enriquecer, mas têm
vontade de ensinar e de fazer aquilo que mais gostam, daqueles que têm andado com a casa às costas para
fazer aquilo que verdadeiramente gostam e os motiva, que é ensinar e ensinar na escola pública de qualidade.
É por isso que esta prova, que é uma prova profundamente injusta, iníqua, um embuste, uma prova de ódio
deste Governo em relação aos professores da escola pública, tem de ser abolida.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, agradeço as suas questões e
subscrevo as preocupações que aqui traz, nomeadamente quando conseguimos encontrar sinais positivos,
nos últimos resultados do PISA, em matérias importantes, como, por exemplo, em Matemática — e não
podemos esquecer que o programa e as medidas que permitiram estes resultados foram deitados no lixo por
este Ministro da Educação —, mas também há muitas matérias que continuam a preocupar-nos. E o
referencial PISA tem o seu valor, ou seja, é evidente que temos de o olhar com atenção, mas é um dos
quadros de referência internacionais, entre outros que poderíamos escolher.
Tem toda a razão quando diz que está muita coisa por fazer e o que nos preocupa mesmo é a consciência
de que, se este Governo continua mais tempo, muito, muito mais haverá por fazer em nome e em defesa das
crianças, dos jovens e da preservação da escola pública, porque, de facto, é a escola pública que está em
risco.
Se há necessidade de defender a democracia, se há necessidade de um compromisso da sociedade e da
democracia, é exatamente pela dignidade e pela preservação da escola pública, e ela está em risco.
Sabemos que muitas crianças, muitos jovens, muitos estudantes do ensino superior não têm as mínimas
condições de acesso, sabemos que o Governo liquidou alguns dos recursos de apoio até à qualidade e ao
reforço das aprendizagens, sabemos que esta escola e estas políticas têm aumentado as desigualdades
sociais, porque este Governo tem um forte desprezo por um grande conceito, por um grande princípio da
democracia, que é o princípio da igualdade de oportunidades para todos e para todas. E, por isso, a escolha
que faz parte do seguinte: vale a pena aprofundar a escola inclusiva, que é o desafio que hoje se coloca? Vale