I SÉRIE — NÚMERO 23
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís
Menezes.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, saúdo-o por nos trazer um tema
que é relevante, que está na ordem do dia e ao qual não devemos fugir.
Quero também saudá-lo pela coerência com que o PCP sempre abordou esta questão, coerência que
comparo com a incoerência e mesmo — uso uma expressão um pouco mais forte — com a falta de vergonha
do Partido Socialista, porque, sucessivamente, em todos os PEC (até ao PEC III, que foi aprovado, e ao PEC
IV, que foi rejeitado), estava lá preto no branco a privatização dos CTT e agora diz: «Meu Deus que nós não
queremos a privatização dos CTT». Ou seja, esta incoerência mostra bem um Partido Socialista não só sem
memória, mas também sem saber exatamente aquilo que é e aquilo que quer para o País. É um Partido
Socialista perdido no tempo, perdido no espaço, sem liderança, apenas a olhar para o curto prazo, e ninguém
ganha com isso.
Relativamente à questão dos CTT, não vou sequer entrar no debate que, muito seriamente, nos pode
dividir, que é o de os senhores serem contra a privatização e de nós acreditarmos na privatização de um setor
em elevada transformação, como é o setor dos correios, e para uma empresa que, neste momento, fruto de
outras privatizações na Europa, pode interessar a muitos investidores. Soubemos, hoje, que 98% dos
investidores são portugueses.
Assim, aquilo que lhe quero mostrar, porque é factual, sendo embora um ponto de vista totalmente
diferente do seu — eu respeito o seu e peço-lhe que respeite também o meu —, são contas simples de se
fazer: amanhã, os CTT vão ser vendidos em bolsa com uma valorização de 100% do seu capital, de quase
900 milhões de euros, quase o dobro daquilo que alguns investidores diziam que dariam por essa empresa em
negociação privada. O Estado optou, e ainda bem, por uma operação pública de venda — neste caso,
mostrámos que estivemos bem.
O Sr. Deputado Rui Paulo Figueiredo falou das nebulosas das vendas diretas. Dou-lhe o exemplo da ANA
em que a Comissão Europeia conclui que o processo de negociação foi aberto e transparente e não que
houve discriminações relativamente às condições de elegibilidade.
Sr. Deputado Bruno Dias, indo ao assunto dos CTT, com números e factos — há um mar ideológico que
nos divide, mas eu respeito a sua coerência e peço-lhe que respeite a minha —, porque números são
números, devo dizer o seguinte: o Estado recebe, em média, dos CTT, por ano, cerca de 48 milhões de euros
de dividendos. Pela venda dos 70% que vai ser feita, o Estado vai receber quase aquilo que receberia por 12
anos de dividendos futuros da empresa, repito, 12 anos de dividendos futuros da empresa, e ainda fica com
30% do capital, por isso ainda vai receber, por ano, cerca de 12 milhões de euros de dividendos.
Para além disso, aquilo que é importante relembrar é que este dinheiro vai ser também abatido à dívida
pública e os juros da dívida pública que vamos deixar de pagar a uma taxa média de cerca de 4%, podemos
estimar, rondaria cerca de 20 milhões de euros de poupança.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Vou terminar, Sr.ª Presidente, agradecendo-lhe, desde já, a tolerância que
teve não só para comigo mas também para com os restantes oradores.
Acrescentaria apenas o seguinte: o PCP mantém a coerência de querer defender aquilo que acha que
politicamente deve ser defendido, aquilo em que acredita, que é a manutenção pública do que devem ser
alguns serviços universais mas também de alguns interesses sindicais que tem nessa empresa, tal como tem
noutras empresas. Isso é justo e é perfeitamente aceitável, mas uma coisa é certa: amanhã, os CTT vão ser
privatizados, 98% das ofertas são de investidores portugueses, vai ser vendido por um preço recorde em toda
a Europa — há mais nove países europeus onde isto já aconteceu e não é nenhuma tragédia —, o correio vai
continuar a ser entregue e, se houver algum problema, temos um regulador.
Relativamente à confidencialidade, e com isto termino, Sr.ª Presidente,…
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem mesmo de terminar, Sr. Deputado!