I SÉRIE — NÚMERO 23
56
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada, agradeço as questões que colocou.
Certamente que reconhecemos a importância da avaliação na qualificação do sistema, aliás, o Bloco de
Esquerda há muito que apresentou iniciativas legislativas nesse sentido, quer para a avaliação do sistema,
quer para a avaliação dos professores. Portanto, não temos qualquer espécie de receio sobre esta matéria e
enfrentámo-la com propostas alternativas.
Vamos falar um pouco mais seriamente sobre a importância deste referencial internacional. É facto que é
um referencial, é um termo de comparação, mas é um dos mais prestigiados, e a Sr.ª Deputada há de
reconhecê-lo. É facto, também, que as melhorias sensíveis apontadas se reportam ao período de 2003/2009,
pelo que tem esta evidência como garantida.
Mas quero perguntar-lhe se, face às considerações que foi fazendo, não a perturba esta obsessão do Sr.
Ministro da Educação com os exames e se não a perturba termos um Ministro da Educação que está
orgulhosamente só no quadro das políticas europeias mais avançadas. E dou-lhe um ou dois exemplos.
Portugal, no quadro europeu, é o único País onde, nos primeiros nove anos de escolaridade, as crianças e
os jovens são obrigados à realização de exames em três momentos, exames cujos resultados e desastre bem
sabemos quais são e que, aliás, não têm correspondência, afinal, naquilo que o PISA nos vem dizer sobre o
desempenho destes jovens.
Outro exemplo: temos um Ministro da Educação que destrói um programa de Matemática que estava a dar
bons resultados e medidas de apoio à Matemática, nomeadamente o Plano de Ação para a Matemática,
quando a avaliação é tendencialmente positiva.
A pergunta que lhe deixo é esta: diversificação dos sistemas?! Gostaria de a ouvir falar sobre o desastre da
Suécia, com a implementação do cheque-ensino!… É porque o debate que hoje fazemos é mesmo este:
devemos aprofundar, melhorar, qualificar a escola pública e encontrá-la como um espaço constitucionalmente
defendido de igualdade de oportunidades para as nossas crianças e para os nossos jovens ou reforçar a oferta
privada, o ensino privado e apostar num modelo profundamente elitista e desigualitário?! Esta é a pergunta
que se faz ao PSD! Já engoliram o cheque-ensino, que, de facto, foi, durante muito tempo, a oferta número um
do CDS, mas os senhores integraram-no, e este é o debate que tem de ser feito em torno do futuro do nosso
País, porque é das nossas crianças e dos nossos jovens que estamos a falar.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Agostinho Santa, a quem saúdo, nesta primeira intervenção do seu mandato.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Muito obrigada, Sr.ª Presidente.
Sr.as
e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Cecília Honório, cumprimento-a por ter trazido a debate o assunto
que trouxe, principalmente no que tem a ver com os resultados do PISA.
O Relatório PISA vai muito para além do ensino, das implicações que tem com o ensino. Seria um erro
confiná-lo a esse nível, seria, quanto a mim, minimizá-lo nos seus sentidos e nos seus alcances múltiplos. O
projeto PISA não se confunde com uma mera classificação de testes escolares, tenta perceber, de uma forma
dinâmica, o nível de preparação dos jovens para enfrentarem a vida concreta.
Nesse sentido, permite uma análise a um nível mais global e fundo. Permite perceber o sucesso ou o
insucesso das políticas para o desenvolvimento na área da juventude, bem como valorar os instrumentos
usados ou não para o exercício pleno da liberdade, da cidadania, de uma vida de relação profícua com os
outros. Esses instrumentos apontam ao conhecimento, à educação, à formação, à ciência, à cultura, à
tecnologia e é por isso, é por terem esse alcance e esse efeito reforçados que os indicadores agora
publicitados trazem preocupações, e preocupações sérias.