11 DE DEZEMBRO DE 2013
11
Sr. Deputado, vou dar-lhe dados para contrapor aos que aqui nos referiu. Disse-nos que o Banco de
Portugal prevê que haja um aumento do número de empregos no próximo ano. Digo-lhe que espero bem que
seja verdade, mas temo que não seja, porque o que vemos, dia após dia, é que são mais as pessoas que
emigram do que as pessoas que conseguem arranjar emprego. Aliás, um dado assustador é o de que, no
último ano, foram mais as pessoas que emigraram de Portugal do que as que nasceram em Portugal. Ora, isto
é o desastre da política deste Governo.
Quando olhamos para a taxa de emprego e para a taxa de desemprego, vemos que o que tem realmente
influência é a emigração e que é por isso que a taxa de desemprego baixa.
Mais: este Governo e as políticas de austeridade destruíram mais de 500 000 postos de trabalho. E, a
correr bem, a correr pelo melhor — diz-nos o Banco de Portugal —, serão criados 20 000 postos de trabalho.
Veja bem: 500 000 postos de trabalho destruídos em três anos, para serem criados 20 000!
O que nos diz o Banco de Portugal — aliás, o que nos diz o Governo no Relatório do Orçamento do Estado
— é que, se correr bem, se correr tudo mesmo muito bem, no próximo ano não conseguiremos sequer
recuperar metade do que o País perdeu, este ano, com o aumento brutal de impostos.
Ora, é disto que estamos a falar: depois de toda a austeridade, os ténues sinais da economia não dão um
passo atrás no desastre do País — até nisso, também são ténues. Se for este o caminho, teremos uma
década perdida.
E é com isso que o confronto, Sr. Deputado: explique-nos, a nós, ao País, que, afinal, há saída, porque nós
não vemos saída. Não há saída na criação de emprego. 20 000 postos de trabalho não repõem os 500 000
destruídos ao longo de três anos.
Os 0,8 pontos percentuais de crescimento do PIB não comparam com os mais de 7 pontos percentuais
destruídos ao longo de três anos.
Então, Sr. Deputado, onde é que está a saída? Nós não a vemos!
O que é curioso é que o Governo, que dizia que, afinal, a austeridade era má e se distanciava do FMI,
porque queria uma outra meta para o défice, queria outras políticas, queria mais flexibilidade, agora utiliza a
propaganda para dizer que, afinal, é o FMI que está errado. Agora que a Sr.ª Christine Lagarde «deu a mão à
palmatória» e reconhece que errou, é o Governo que, pelos vistos, vem em contraciclo.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ora, tem aqui uma oportunidade para dizer que este Governo errou,
que o que fez de mal ao País foi um erro e não deveria ter feito, que a sociedade que criou é uma má
sociedade, porque é mais desigual, e que o emprego que o Governo quer não é aquele que realmente está a
criar, mais precário, com salários mais baixos e com menos perspetivas de futuro.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro do Ó Ramos.
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, registo a posição
mais razoável do Bloco de Esquerda relativamente à do Partido Socialista. Sinais dos tempos!
O Sr. Deputado disse que não vê saída. Sei que, para o Bloco de Esquerda, a única saída seria a saída de
Portugal do euro.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Isso é falso!
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Mas o PS não defende isso. Sr. Deputado, trata-se de números. De
facto, nos últimos trimestres, Portugal criou cerca de 120 000 postos de trabalho, em termos de criação líquida
de trabalho.
O Sr. Deputado, agora, vem falar em crescimento ténue. Mas lembro-me do discurso do Bloco de Esquerda
no início do programa de resgate, quando dizia que estas políticas nunca poderiam levar ao crescimento
económico.