I SÉRIE — NÚMERO 28
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Anula-os!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — … direitos que foram negociados livremente entre as duas partes —
trabalhadores e empresas — ao longo de décadas. Este Decreto-Lei ataca a contratação coletiva, como já
disse, contrariando até o último acórdão do Tribunal Constitucional.
Já que nos falou numa linguagem tão hermética, quero dar-lhe exemplos concretos de trabalhadores dos
CTT, de um que ganhe 700 € e de outro que ganhe 3000 €. Conjugando o corte salarial previsto no Orçamento
do Estado mais o corte previsto neste Decreto-Lei, um trabalhador que ganhe 700 € tem, no final, um corte de
17,4% no seu salário.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade! Essa é que é essa!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Curiosamente, Sr.ª Secretária de Estado, um trabalhador que ganhe 3000
€ tem, no final, um corte de 15,3% no seu salário. E até lhe dou mais um exemplo, se quiser: um trabalhador
que ganhe 4000 € tem, no final, um corte de 14,4%. É disto que estamos a falar!
Por isso, através deste Decreto-Lei e de uma só penada, os senhores abalroam direitos dos trabalhadores
do Metro, da Carris, da CP, dos CTT, empresas que dão lucro, e depois vêem-nos falar em salários milionários
dos gestores?! Mas quem é que nomeou os gestores?! Mas o que é que o Governo já fez relativamente a
esses gestores, a esses salários e a esses prémios escandalosos que auferem?!
O que se pretende é, através de um Decreto-Lei, desconstruir direitos, desconstruir um direito fundamental
no Direito do Trabalho, que o direito à contratação coletiva!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Os senhores cortam a eito em todos os direitos e, de facto, fazem reformas
de regime por todas as vias. Fazem-nas por leis, por decretos-leis, por despachos, por resoluções de
Conselhos de Ministro. Seja qual for a via, os senhores só têm um propósito: atacar sempre e sempre os
rendimentos do trabalho. Todos os dados e todos os estudos demonstram que as vossas alterações às leis do
trabalho fazem transferências diretas dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital.
Portanto, não vale a pena virem aqui, hoje, com a demagogia de que as alterações são para moralizar as
empresas públicas. Façam leis que, de facto, acabem com os prémios dourados e escandalosos existentes
em muitas empresas públicas, não ataquem é os mesmos de sempre.
Pergunto-lhe, Sr.ª Secretária de Estado, o que tem a dizer relativamente ao exemplo concreto que lhe
apresentei.
O Bloco de Esquerda acha que não é por esta via que se resolvem os problemas das empresas públicas e
muito menos os problemas de endividamento do País.
Por isso mesmo, propomos a cessação de vigência deste Decreto-Lei, porque é o único caminho possível
no sentido de manter e de respeitar a contratação coletiva.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Começo por propor aos Srs. Deputados que
da próxima vez que vierem aqui falar de honestidade intelectual prolonguem esse raciocínio e pratiquem essa
atitude no debate.
Vozes do PCP: — Muito bem!
Protestos do Deputado do CDS-PP Artur Rêgo.