19 DE DEZEMBRO DE 2013
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A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, aproveito a sua intervenção
não para voltar a mencionar aspetos que já abordei, mas para especificar dois: um em mais profundidade e
outro que não tive ocasião de mencionar de início e que o Sr. Deputado referiu, muito a propósito, e que tem
que ver com as questões da imigração.
Como é do conhecimento público, o Conselho Europeu de outubro fez uma avaliação do relatório
apresentado pela Sr.ª Ashton e que se seguiu à reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da União
Europeia, visando justamente trazer mais luz sobre as condições que permitiram alguns desenlaces trágicos
que rodearam migrações do norte de África para a Europa, nomeadamente aquele que todos recordamos
ainda: a tragédia de Lampedusa.
Na altura, ficou estabelecido que haveria um reforço da Frontex e que toda a Europa iria reanalisar as
políticas de vizinhança e de circulação, de maneira a garantir, em primeiro lugar, que se respeitassem os
direitos humanos e, em segundo lugar, que pudéssemos atuar a montante destas situações.
Ora, nós temos participação e de resto estamos com responsabilidades na condução da parceria 5+5, que
junta, justamente, cinco países da área mais ocidental da Europa com cinco países da área mais ocidental do
norte de África.
No âmbito dessa parceria dos 5+5, temos vindo também a aprofundar esta avaliação e análise, que
relevam da maior importância para a Europa, das condições de segurança que envolvem os fenómenos
migratórios.
Julgo que é de lamentar que ciclicamente apareçam visões negativas de uma espécie de ideia de Europa
fortaleza, que pretende preservar a Europa de qualquer contágio migratório. A Europa precisa de imigrantes e
de força de trabalho. A Europa pode não ter condições para dar asilo a toda a gente e para responder às
necessidades, que são muitas, de muitas regiões deprimidas do mundo, mas a Europa precisa, no seu
espaço, de acolher imigração, porque precisa de contrariar os fenómenos da natalidade decrescente e porque
precisa de ganhar força de trabalho, força de investigação e força de crescimento.
Portanto, a ideia da Europa fortaleza é negativa, e aqueles países que olham, mesmo ao nível do espaço
Schengen, de uma forma demasiado limitadora, quase sensitiva… Peço desculpa, não era isso que pretendia
dizer; pretendia mais referir-me aos aspetos fiscais relacionados com o movimento de cidadãos, censitórios
portanto. Esses não nos parecem ser os ângulos adequados de observação, nem para a evolução do espaço
Schengen nem para a circulação de pessoas, nomeadamente o acolhimento de imigrantes no seio da Europa.
O segundo aspeto que gostaria muito de realçar diz respeito à política comum de defesa e segurança. Há
pouco, o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa designava de imperialista esta tentação europeia de desenvolver
uma indústria de defesa.
Sr. Deputado, quero aqui deixar claro que, do ponto de vista do Governo, a Europa não tem de se resignar
a nenhuma menoridade tecnológica, nomeadamente ao nível das indústrias de defesa. Pelo contrário, nós
atribuímos muita relevância à segurança e à defesa na Europa. Entendemos que a Europa tem condições quer
do ponto de vista da investigação quer da tecnologia, para poder ter uma indústria de defesa avançada que,
evidentemente, esteja ao serviço da segurança, da defesa e, portanto, da paz.
Esse é o projeto europeu e isso não significa que a Europa se desarme ou que a Europa desinvista na
tecnologia e na investigação em torno da defesa e da segurança. Antes pelo contrário!
Durante muitos anos, dizia-se que a Europa não seria nunca verdadeiramente Europa enquanto
dependesse dos Estados Unidos da América para poder garantir a sua segurança. Ora, nós sabemos que é
verdade que a Europa ainda não gasta o suficiente em segurança e em defesa!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Vejam bem!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas compreende-se que uma União que está a procurar vencer as
dificuldades sociais que decorrem de uma crise económica e financeira grave não desvie o suficiente para a
segurança e para a defesa quando tem de acudir à correção dos défices excessivos e quando tem de
amortecer os efeitos negativos da crise económica e financeira.