I SÉRIE — NÚMERO 30
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Programa e fazer aquilo que depende de nós, tomando as medidas que são necessárias, em vez de nos
focarmos no que pode ser dito, porque, a seu tempo, como foi referido, irá ser decidida a forma e o momento
de sair deste Programa; segundo, que as condições dependem de Portugal, obviamente em concertação com
os parceiros internacionais.
Eu não vejo a novidade disto, Sr. Primeiro-Ministro! É uma declaração de bom senso. Portanto, não vale a
pena estarmos a criar polémicas que manifestamente não existem, tanto mais que quem quiser ser
esclarecido pode consultar as atas do Parlamento Europeu. Já agora, é preciso, desde logo, salientar que
grande parte da intervenção do Sr. Mario Draghi foi no sentido de elogiar os esforços de Portugal, dos
portugueses e do Governo português. Mas isso, obviamente, não interessa à oposição. Aliás — e quem quiser
consultar e ser realmente ser esclarecido também pode ver —, a dada altura mostrou-se até surpreendido
relativamente à força desses esforços e dessa capacidade dos empresários e dos trabalhadores das
empresas portuguesas e com os progressos que Portugal tem feito do ponto de vista económico.
Portanto, basta ler tudo, ouvir tudo e querer saber tudo o que o Sr. Mario Draghi disse para se perceber
que está muito longe de estar em causa a dignidade do País, antes pelo contrário!
Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, penso que não vale a pena estarmos a perder mais tempo com este tipo de
polémicas que em nada contribuem quer para o debate europeu quer para os problemas dos portugueses.
Mas não deixa de ser curioso um aspeto, Sr. Primeiro-Ministro. Já reparou que os partidos da oposição,
sobretudo os mais à esquerda, aqueles que tanto falaram de segundo resgate, parecendo — enfim, não quero
fazer juízos de intenção — que quase o desejavam, já esqueceram essa menção? Já não falam de segundo
resgate, Sr. Primeiro-Ministro. Parece que estão a ficar sem a tal narrativa. Este é também um ponto deste
debate que não deixa de ser interessante: a falta de narrativa de alguns partidos mais à esquerda, que tanto
desejavam um segundo resgate e que hoje abandonaram essa mesma tese.
Antes de me referir ao estado da União, gostaria de lhe dizer uma coisa, Sr. Primeiro-Ministro.
Concordamos que, mesmo estando contra a dupla condicionalidade, é evidente que uma posição de puro e
simples bloqueio iria atrasar o mais que necessário acordo sobre o quadro plurianual. Como sempre aqui
dissemos, mais importante do que estabelecer um bom acordo é ter um acordo a tempo e horas, para que
possamos programar a tempo e horas e para que as empresas portuguesas possam obter financiamento ao
qual possam candidatar-se a tempo e horas. Hiperbolicamente, a 1 de janeiro, se necessário, para não
acontecer como muitas vezes aconteceu, em que os quadros eram aprovados, os meses e até os anos
passavam, o financiamento ficava em Bruxelas e não estava, como deveria, em todo o País, nas pequenas e
médias empresas.
Queria, pois, dizer que percebemos a preocupação quanto à dupla condicionalidade. Com certeza que
seremos contra e com certeza que teremos confiança que o Governo português, se alguma vez a questão se
colocar, será contra. No entanto, Sr. Primeiro-Ministro, não deixa de ser curioso o seguinte: por um lado,
critica-se a Europa pela sua lentidão e, por outro, quando a Europa age, num consenso que implica cedências,
ao fazê-las e ao obtê-las é criticada por essas cedências terem de ser feitas.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Não deixa de ser contraditório.
Por fim, Sr. Primeiro-Ministro, para não ultrapassar em muito o tempo de que disponho, gostaria de dizer-
lhe, sobre o estado da União o seguinte: cinco anos depois do abalo do sistema financeiro nos Estados Unidos
e também na União Europeia, certamente que todos gostaríamos que tivesse ocorrido uma reação mais
célere, mais rápida. Mas também é preciso sublinhar e dizer que aproveitámos, ainda que com passos
importantes mas incompletos, para reforçar os mecanismos de supervisão comum, das garantias de depósitos
ou até da capacidade de resposta.
É evidente que há muito para fazer e há sobretudo a necessidade de aproximar as decisões europeias na
sua compreensão, na sua explicação, aos seus destinatários que, em última análise, são os cidadãos. É uma
tarefa de todos.
Oxalá todos estejam comprometidos com ela. O CDS estará com certeza.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.