I SÉRIE — NÚMERO 42
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Vamos prosseguir. A próxima pergunta ao Sr. Deputado Carlos Peixoto é do BE.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr. ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, tanto empenho em que as famílias
tenham mais filhos e tão pouco empenho em que as famílias que já os têm os consigam criar! E já agora
também tão pouco empenho em que as famílias que não os têm possam sequer ser famílias.
O Sr. Deputado Carlos Peixoto vem aqui apresentar um problema de demografia, mas a verdade dos
números desmente-o: entre 2009 e 2012, meio milhão de crianças, em Portugal, perderam o abono de família;
os salários, para quem conseguiu ficar com o seu emprego, decresceram 23%; e temos mais 500 mil
desempregados no País.
Dizem que agora há criação de emprego, mas quando vamos ver os números, constatamos que a criação
de emprego está abaixo das 10 horas de trabalho por semana. Acabaram com qualquer tipo de segurança no
trabalho, temos empregos mais precários, recibos verdes, gente que consegue a renovação do seu contrato a
prazo mas sem nunca saber se, no mês seguinte, tem emprego. E uma grande parte dos trabalhadores que
mantiveram o seu emprego recebem o salário mínimo, que os senhores se recusam aumentar.
Também reduziram bolsas de investigação, cortaram na educação, cortaram na saúde e aumentaram os
seus custos e querem-nos convencer que a questão do declínio demográfico em Portugal é uma questão
cultural.
Quem é que aguenta e quem é que pode planear filhos no meio desta pobreza e desta precariedade?
Ninguém! Não é possível! Os senhores destruíram todas as condições económicas que permitiam às famílias
terem um mínimo de planeamento e agora têm a hipocrisia de vir apresentar o problema como uma questão
cultural. Não é uma questão apenas cultural! Aliás, há, sim, uma tendência de declínio demográfico, mas o que
se passa em Portugal não é um inverno, é uma catástrofe.
Pela primeira vez desde os anos 70, Portugal regista um declínio demográfico. Há, hoje, menos pessoas a
viver no País do que havia há dois ou três anos. Uma situação semelhante aconteceu apenas nos anos 60,
anos do fascismo, da Guerra Colonial e da pobreza extrema. Isto não é uma tendência cultural, é uma
catástrofe! E o Sr. Deputado vem aqui falar genericamente de uma intenção sem apresentar uma proposta
concreta para resolver o assunto.
Sr. Deputado, não é o Governo nem são as bancadas da direita que têm de dizer às pessoas quantos filhos
têm de ter; o que têm de fazer é de proporcionar às pessoas que querem ter filhos as possibilidades de os
poderem ter — salários dignos, condições e segurança no trabalho e condições de vida —, porque é disso que
as pessoas precisam para poderem ter os filhos que planearam.
A Sr.a Presidente: — Queira terminar, Sr.
a Deputada.
A Sr.a Catarina Mortágua (BE): — Termino, Sr.
a Presidente.
Sr. Deputado Carlos Peixoto, no espírito da conciliação entre a vida familiar e o trabalho que aqui veio
apresentar, gostaria de saber se acompanha a proposta do Bloco de Esquerda de redução do horário de
trabalho para 35 horas semanais de forma a permitir criar mais emprego, partilhar o emprego, conciliar a vida,
ter tempo para a família e o lazer e valorizar o salário.
Aplausos do BE.
A Sr.a Presidente: — Para formular o próximo pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.
a Deputada
Sónia Fertuzinhos.
A Sr.a Sónia Fertuzinhos (PS): — Sr.
a Presidente, Sr.
as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Carlos Peixoto, a
política deste Governo tem sido, claramente, uma política de empobrecimento, tendo em conta o aumento do
desemprego e a quebra muito acentuada dos rendimentos das famílias e das pessoas. É uma política que
agrava e continuará a agravar a quebra da natalidade no nosso País.
O primeiro fator e preocupação das famílias e das pessoas na decisão de terem mais ou menos filhos é o
emprego, Sr. Deputado. E nós continuamos com um grave problema de desemprego no nosso País, mas