30 DE JANEIRO DE 2014
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O Governo fala em milagre económico e em crescimento, mas esse milagre é só para os senhores do
dinheiro, uma vez que aquilo a que assistimos é ao empobrecimento da maioria do povo, é ao crescimento
sem melhoria das condições de vida das pessoas, que mantém altas taxas de desemprego e de emprego
precário, sem direitos e com salários de miséria. Aliás, mesmo que se confirmem as previsões do Governo
para 2014, ao ritmo a que anunciam esse crescimento, nem em 2020 recuperaremos o que foi perdido nestes
últimos anos com o pacto de agressão, com as troicas, em que quase 6% do PIB foi destruído.
O Governo vem agora falar em pós-troica, mas a verdade é que chega ao fim um pacto e começa outro,
continuam as mesmas medidas, as mesmas soluções, as mesmas políticas de extorsão do povo e de roubo
dos trabalhadores e dos reformados, ou seja, mantém-se a continuação da troica por outros meios.
Vamos aos factos: temos mais desemprego do que tínhamos em 2011; produzimos muito menos; estamos
hoje mais pobres com a venda de todo o nosso património; estamos mais pobres do que estávamos quando o
pacto foi assinado, para servir os interesses da banca e dos grandes grupos económicos; temos o povo mais
pobre; temos mais emigração; temos piores serviços públicos; temos uma dívida muitíssimo maior e estamos
mais «atados de pés e mãos».
A solução não passa por novos pactos com medidas de extorsão do País e dos portugueses; a solução
está em renegociar a dívida nos seus montantes, juros, prazos e condições de pagamento, com a assunção
imediata da redução do serviço da dívida e uma nova política alternativa, patriótica e de esquerda.
A pergunta que se coloca, Sr. Deputado, é muito concreta e é a seguinte: não concorda o Sr. Deputado que
o País não pode adiar por mais tempo uma mudança de rumo? Uma verdadeira alternativa? Uma política que
tenha como referência os valores de Abril e o respeito pela Constituição da República Portuguesa? Não
concorda o Sr. Deputado que é altura de, de uma vez por todas, haver uma mudança efetiva de políticas que
rejeitem este pacto, que rejeitem esta troica, que rompa com esta política e que assuma, efetivamente, uma
política patriótica e de esquerda? Onde é que o Sr. Deputado e o seu partido se posicionam nesta questão
fulcral para o futuro do País?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo
Figueiredo.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, em primeiro lugar, quero
agradecer a sua questão e dizer-lhe que nós colocamo-nos na defesa de um novo rumo para Portugal, na
defesa de uma nova política, no sentido de procurar soluções alternativas para os problemas que afetam os
portugueses. E gostávamos que o Partido Comunista Português também estivesse nessa linha de construção
de propostas e de soluções e até na procura de convergências.
Sou lisboeta e sou do tempo em que o PCP fazia parte das soluções, em que contribuía para transformar a
cidade de Lisboa,…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Temos muitas histórias para contar sobre isso!
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — … e, sinceramente, gostava que, à nossa esquerda, o Partido
Comunista Português também desse a sua contribuição para soluções em concreto.
De facto, o Sr. Deputado tem muita razão no que disse no sentido de que é verdade que o desemprego
caiu ligeiramente, de acordo com a taxa que nos é anunciada, mas temos mais de 100 000 jovens que
emigraram; temos muitos inativos que deixaram de procurar emprego; temos muito trabalho precário; temos
um número de empregados — ainda há pouco a minha colega Sónia Fertuzinhos referiu isso — que caiu para
valores de há 19 anos, ou seja, 1,1 milhões de portugueses estão fora do mercado de trabalho; temos criação
de riqueza que caiu para valores de há 12 anos. Por tudo isso, temos de trabalhar, e muito, para mudar esta
realidade.
Nós não escondemos nenhum indicador, por mais positivo ou negativo que seja, ao contrário da
propaganda do Governo, que procura salientar alguns indicadores positivos, apesar de as melhorias serem
ténues, e «varrer para debaixo do tapete» tudo o que sejam indicadores negativos.