I SÉRIE — NÚMERO 42
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Em Braga, houve mais 65% de pessoas pobres, em desespero, ao ponto de pedirem ajuda à Caritas. Isto é
a consequência das medidas de austeridade e contrasta com o milagre económico que o Governo diz existir,
pois há mais desemprego, mais precaridade e há, também, mais dívida pública.
Destruiu-se 7% da riqueza nacional. Vamos demorar 10 anos a recuperar tudo aquilo que foi destruído.
É também uma inverdade ou um mito dizer-se que será um oásis depois de a troica sair do País.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr.ª Deputada, peço-lhe que conclua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Termino, Sr. Presidente, perguntando ao Sr. Deputado do PS se é ou
não verdade que o Tratado Orçamental, que o PS também aprovou neste Parlamento, vai ou não obrigar o
País a manter a austeridade durante a próxima década, se para se cumprir a meta do défice de 0,5% que esse
Tratado prevê se vai ou não obrigar o País a ter mais austeridade e a ser vigiado, a ter interferências da parte
da Comissão Europeia tal como tem hoje.
Queria, pois, obter uma opinião do PS relativamente a esta matéria.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo
Figueiredo.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, começo por lhe
agradecer a questão colocada.
Como já aqui disse, entendemos que as pessoas estão a sofrer, e bastante. Muitos portugueses perderam
grande parte do seu rendimento, muitos portugueses entraram em insolvência, tiveram de entregar as suas
casas e não conseguem cumprir compromissos — temos debatido esta matéria aqui variadíssimas vezes. E,
na verdade, são pessoas honradas que planeavam cumprir os seus compromissos — e querem cumpri-los —,
mas não esperavam aquilo que foi um assalto fiscal, um enorme aumento de impostos, o ir ao bolso dos
portugueses de toda a maneira e feitio.
Por isso, também muitos portugueses emigram. Nós precisamos de uma política amiga do crescimento,
amiga do emprego e amiga do desenvolvimento económico e da coesão territorial, mas temos de temperar
estas políticas, porque isso não é compatível com o rigor e com a sustentabilidade orçamental. É também por
isso que o Partido Socialista apoiou o Tratado Orçamental. Estamos absolutamente convictos que é possível
compatibilizar a sustentabilidade das funções sociais do Estado com rigor na gestão do Estado e com políticas
amigas do crescimento e do emprego.
Não fazemos é a demagogia que o PSD, por exemplo, fazia quando dizia que era fácil cortar nos consumos
intermédios, mas depois, na prática, não consegue cumprir.
Podia dar vários exemplos, mas dou só um: lembram-se dos 500 milhões de euros que iam ser cortados na
despesa ao nível das tecnologias de informação? Houve um grupo de trabalho, que tinha uma assessora do
Primeiro-Ministro que o coordenava, mas ainda estamos à espera desse corte dos 500 milhões de euros por
ano.
Vozes do PS: — Bem lembrado!
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — É também por isso, como aqui disse, e muito bem, na semana
passada, o Sr. Deputado Pedro Nuno Santos — e vários já o repetiram —, que, ao nível do défice, por cada 4
€ de austeridade que tiraram aos portugueses só 1 € se consolidou no défice.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Concluo, Sr. Presidente.