30 DE JANEIRO DE 2014
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O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Lynce, quero agradecer-lhe as
questões colocadas, embora confesse que, dada a estima que tenho por si, me desiludiu um pouco, porque
fez uma intervenção algo exaltada e até inconsistente.
Vozes do PSD: — Oh!…
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Tendo pouco para dizer em relação ao presente, refugiou-se muito no
passado. Foi até 1983, dado o vazio de conteúdo em relação ao presente.
Sobre o presente, queria dar-lhe três dados na linha de debatermos este assunto seriamente, em que nem
tudo é um «mar de rosas», em que nem tudo é o oásis que o Governo nos quer apresentar.
Por exemplo, o investimento líquido estrangeiro em Portugal caiu brutalmente em 2013. Segundo dados
conhecidos, de janeiro a novembro caiu perto de 70%, depois de já ter caído 13% em 2012. Atingiu 2000
milhões de euros contra 6,3 mil milhões de euros em 2012, claramente dados negativos. Portanto, nem tudo
vai bem nem tudo é o oásis que a propaganda do Governo nos enuncia.
Que reforma estrutural é esta da economia ao nível das exportações? É verdade que as exportações têm
crescido, mas têm crescido na gama de média e de baixa tecnologia; os produtos de alta tecnologia baixaram
quase 3%. Estamos, pois, muito longe da reestruturação anunciada da nossa economia, pelo que temos de
fazer mais. Por isso, o Partido Socialista propôs audições em sede de Comissão de Economia e de Obras
Públicas — e ainda bem que os partidos da maioria nos acompanharam — para debatermos este assunto ao
nível dos fundos comunitários, ao nível do comércio internacional, porque temos todos de fazer mais.
A terminar, Sr. Presidente, deixo um último exemplo: o crédito vencido das empresas atingiu o maior valor
de sempre em dezembro de 2013, 12,6%, mais do dobro face ao valor que existia no início de funções deste
Governo, que era de 5,4% em junho de 2011.
Como vê, Sr. Deputado Pedro Lynce, estamos muito longe do oásis que a propaganda do Governo
apregoa.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Também para pedir esclarecimentos ao Sr. Deputado Rui Paulo
Figueiredo, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Rui Paulo Figueiredo, o senhor trouxe aqui
uma questão importante, que é a de este Governo ter vindo a apresentar duas retóricas muito fortes, duas
grandes campanhas de propaganda.
Uma delas diz respeito à equidade. É repetido, vezes e vezes sem conta, a existência de uma suposta
equidade na separação dos sacrifícios, mas aquilo que sabemos é que no Orçamento do Estado apenas 4%
de todo o ajustamento cabia às tais medidas que afetavam as grandes empresas de energia ou a banca. E o
Governo continua a apresentar estas medidas todos os dias, como se elas fossem novas, mas elas são
sempre as mesmas, ou seja, são as apresentadas no Orçamento do Estado e que equivalem a 4%.
95% do esforço de ajustamento deve-se aos cortes nas pensões dos reformados, que estão cada vez mais
pobres: são os cortes nos salários, nos serviços públicos, na saúde, na educação, o aumento das taxas
moderadoras, os cortes na investigação — estes são os cortes que equivalem a 95% do ajustamento.
Depois, há 4% que corresponde a uma taxa sobre a banca e sobre as empresas energéticas.
Curiosamente, são estas empresas que depois vão beneficiar da descida do IRC, que foi a borla que o
Governo deu às grandes empresas para as compensar pela taxa que aplicou no Orçamento do Estado, que
apenas equivalia a 4% do ajustamento.
A segunda questão tem a ver com o milagre económico. Já vimos que não existe qualquer equidade na
austeridade, tal como não existe nenhum milagre económico. O milagre que apresentam contrasta
profundamente com a realidade.
Durante as jornadas parlamentares do Bloco de Esquerda, estivemos na Caritas de Braga, onde ouvimos
dizer que, em 2012, aumentou o número de pedidos de ajuda e o número de pessoas ajudadas em 65%.