14 DE FEVEREIRO DE 2014
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Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Onde a aplicação dos bons princípios da governança possam
mostrar-se diminuídos ou insuficientes, é nosso dever fortalecê-los para que, em democracia, não seja o poder
dos interesses, quaisquer que eles sejam, a governar sobre a autoridade dos princípios.
É isso, seguramente, o que os cidadãos nos exigem e é isso, seguramente, o que os cidadãos nos
merecem.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, tendo sido entendimento da Mesa que podem ser
feitos pedidos de esclarecimento ao Sr. Deputado Jorge Lacão no âmbito da sua intervenção, aplica-se,
obviamente, por analogia, os mesmos termos e os mesmos tempos dos pedidos de esclarecimento em relação
às declarações políticas, ou seja, 2 minutos para a pergunta e 2 minutos para a resposta, no caso de ser
individual como o Sr. Deputado Jorge Lacão bem sabe.
Sr. Deputado, estão inscritos, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados António Filipe, do PCP, e
Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Lacão, parece que a questão que
colocou só interessa à parte esquerda do Hemiciclo!…
Sr. Deputado, quanto ao tema que suscitou sobre as comissões parlamentares de inquérito, não
percebemos exatamente aquilo que propôs. Presumimos que propôs que haja uma discussão sobre o
problema das comissões parlamentares de inquérito. Ela é bem-vinda e dessas discussões tem resultado ao
longo dos anos alguns melhoramentos do regime das comissões de inquérito que importa salientar.
Normalmente, esse melhoramento acontece é quando não há maiorias absolutas e, portanto, este poderá não
ser o melhor momento. Em todo o caso, a questão é pertinente.
Sr. Deputado, a questão que colocou é a de que, em regra, as maiorias — e isso tem acontecido ao longo
dos anos — subvertem as conclusões da comissão de inquérito, manipulam as conclusões. Há matéria que é
apurada ao longo da comissão de inquérito e, depois, a maioria aprova um relatório que pouco tem a ver com
aquilo que foi, de facto, a matéria apurada e tem a preocupação central de branquear as responsabilidades do
Governo que apoia. A experiência tem-nos revelado isso.
Ora, nós podemos daí tirar as ilações políticas que quisermos, e tiramos, mas não podemos é julgar a
consciência de cada um, isto é, dizer que há Deputados que estão na comissão de inquérito e que por
disciplina, interesses partidários ou grupos de interesses, votam contra a sua consciência. É um processo de
intenções que não nos sentimos autorizados a fazer em relação a ninguém. Podemos é tirar ilações políticas
e, isso sim, tiramos.
Gostaria também de dizer que a questão que se coloca é a de saber se, apesar de sabermos que isso
pode acontecer e que uma qualquer maioria pode subverter as conclusões de uma comissão de inquérito,
ainda assim, vale a pena ou não constituir comissões parlamentares de inquérito. A nossa resposta é a de que
sim, vale a pena. Porquê? Porque as comissões parlamentares de inquérito são públicas.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — É verdade!
O Sr. António Filipe (PCP): — E, quando há uma maioria que impõe um relatório que contraria o que
todos viram, quem fica mal é essa maioria.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não é o caso!
O Sr. António Filipe (PCP): — Isto porque, com a publicidade das comissões de inquérito — e essa foi
uma grande aquisição de uma reflexão que se fez há uns anos —, verdadeiramente quem julga não é a
maioria, quem julga são os cidadãos, que podem acompanhar os trabalhos.
Daí que a reflexão que o Sr. Deputado aqui trouxe é bem-vinda, mas mesmo com o regime atual, que,
obviamente, tem virtudes e defeitos, nós pensamos que as comissões parlamentares de inquérito são um