14 DE FEVEREIRO DE 2014
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A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O ensino artístico especializado e a
cultura em Portugal encontram-se profundamente desvalorizados, quer pelo desinvestimento público a que
têm sido votados por sucessivos Governos PS, PSD e CDS, quer pela manutenção da precariedade laboral
dos docentes.
O ensino artístico especializado das artes visuais, audiovisuais, música e dança, pelas suas características,
exige a existência de meios humanos com formação em distintas tecnologias de formação artística: cerâmica,
ourivesaria, têxteis, realização plástica do espetáculo, produção artística, madeiras, metais, representação
bidimensional e tridimensional, design de produto, serigrafia, fotografia, meios digitais, multimédia, design de
comunicação, audiovisual, dança e música.
Falar da situação profissional dos docentes do ensino artístico especializado até ao momento, em Portugal,
é sinónimo de instabilidade, de desvalorização profissional, de pagamento de salário pelo índice remuneratório
mais baixo da tabela salarial, de não pagamento de subsídio de férias, de não pagamento da compensação
por caducidade dos contratos de trabalho, situação mantida por sucessivos Governos.
Isto, Srs. Deputados, não são sinais positivos nem para a cultura nem para o ensino artístico em Portugal.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — Dos 400 postos de trabalho considerados indispensáveis pelo Governo
para assegurar o bom funcionamento das sete escolas da rede pública do ensino artístico e especializado,
este fixou apenas 38 vagas e extinguiu 32 postos de trabalho.
É essencial que as escolas do ensino artístico especializado das artes visuais e audiovisuais, da música e
da dança tenham condições de funcionamento para assegurar a qualidade do ensino. Para alcançar este
objetivo, a estabilidade e o cumprimento dos direitos dos docentes é determinante.
Por isso, o PCP apresenta uma proposta de vinculação extraordinária dos docentes do ensino artístico, das
artes visuais e audiovisuais, da música e da dança, integrando-os numa carreira, garantindo a sua progressão,
pondo fim à precariedade que impera nas escolas do ensino artístico especializado e assegurando a
estabilidade do corpo docente nestas escolas.
Tivemos conhecimento de que o Governo anunciou a criação de um grupo de trabalho para analisar
medidas legislativas que conduzam à vinculação dos professores contratados no ensino artístico especializado
das artes visuais e audiovisuais, esquecendo-se dos docentes de dança e de música, que se encontram em
situações similares em escolas artísticas especializadas da rede pública. Registamos este anúncio mas não
nos contentamos com intenções. Se o Governo quisesse resolver o problema, não criava grupos de trabalho,
propunha medidas concretas, porque o problema persiste há muitos anos, Srs. Deputados.
No entanto, se há uma verdadeira vontade de vincular extraordinariamente estes professores — e,
repetimos, estes professores têm de ter oportunidade de uma carreira, têm direito à sua dignidade laboral —,
então, aprovem aqui a proposta do PCP.
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — A garantia da vinculação extraordinária dos docentes do ensino artístico
especializado das artes visuais e audiovisuais, da música e da dança e a sua progressão na carreira docente,
para o PCP, é uma questão de justiça.
O desprendimento com que o Governo vem desinvestindo na cultura e na educação é uma clara e evidente
opção ideológica. É a opção por atacar o caráter emancipador que a cultura e a educação podem
desempenhar enquanto elementos de transformação social e desenvolvimento nacional.
O desrespeito de sucessivos Governos, do PS e do PSD e do CDS, pelos docentes do ensino
especializado artístico, para lá de refletir o ataque mais geral contra os direitos dos trabalhadores, na sua
dignidade e condições de vida, constitui, ainda, um elemento de fragilização da escola pública e de ataque à
sua natureza democrática.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.