20 DE FEVEREIRO DE 2014
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nenhuma inversão de prioridades agora; há, sim, uma continuidade na aposta que já vem de trás, em algumas
matérias, infelizmente.
No que diz respeito ao capital humano, há uma quebra acentuada, gravíssima, ainda mais quando, ao
mesmo tempo que os fundos comunitários reduzem o investimento no capital humano, temos um Governo, um
Ministério da Educação que todos os dias corta. Isto não é dar resposta aos bloqueios estruturais da economia
portuguesa, isto é, sim, persistir no atraso, agravar o atraso estrutural da economia portuguesa.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Costa Neves.
O Sr. Carlos Costa Neves (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Ministros, Sr.ª e Sr. Secretários de Estado, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: Se tudo for prioritário, nada é prioritário.
Governar é escolher, e escolher é o que faz o Governo na proposta de acordo de parceria 2014-2020,
Portugal 2020, a celebrar com a Comissão Europeia.
O Governo escolheu, e escolheu bem. E, antes de escolher, soube ouvir. Soube ouvir os parceiros
institucionais, económicos e sociais, cuja mobilização é essencial para o êxito do acordo de parceria. Se há
domínio em que a importância do consenso sobressai este é, certamente, um deles.
Volto às escolhas do Governo — são acertadas e consequentes, são coerentes e corajosas.
São acertadas e consequentes ao dedicarem 40% dos fundos à competitividade e à internacionalização da
economia, ao concentrarem 93% de tais fundos nas regiões menos desenvolvidas, e ao valorizarem, como
valorizam, a qualificação profissional, o emprego e a inclusão social.
Assim se respeita, em absoluto, um princípio essencial, o da coesão, que, para o ser verdadeiramente,
será económica, social e territorial.
O acordo de parceria acolhe bem esta visão multifacetada do princípio de coesão.
Na vertente económica, distingo a trilogia inovação, crescimento, emprego, promovida essencialmente
pelas empresas, pelo investimento produtivo.
Na vertente social, destaco a qualificação de ativos, o combate ao desemprego, nomeadamente o de
jovens e o de longa duração, bem como a inclusão social e a redução dos níveis de pobreza.
Na vertente territorial, sublinho a concentração de meios nas regiões menos desenvolvidas, assim se
corrigindo persistentes assimetrias, significativos desequilíbrios territoriais nas oportunidades de
desenvolvimento. Cabe aqui uma especial referência aos territórios de muito baixa densidade populacional,
bem como à consideração do reequilíbrio demográfico como elemento essencial. Refiro-me aos desequilíbrios
conhecidos do nível da fecundidade, da natalidade, do envelhecimento ativo e da distribuição geográfica, que
minam as fundações da sustentabilidade da economia, dos sistemas sociais e dos territórios. Estamos perante
um problema verdadeiramente europeu. É por isso que urge iniciar um processo de europeização, de
respostas através de políticas comuns.
As escolhas do Governo são também coerentes e corajosas. Estamos perante uma outra visão, uma nova
atitude. Distingo quatro aspetos: primeiro, supera-se a matriz investimento público/construção de
infraestruturas, domínio em que Portugal está acima da média europeia. E supera-se tal matriz, mesmo
sabendo o quanto, em nós, portugueses, persiste um certo desvanecimento com a obra pública, ainda que de
prioridade duvidosa e de nulo retorno; segundo, o apoio ao investimento passa a ser predominantemente
reembolsável, importando aqui destacar o necessário contributo da nova Agência para o Desenvolvimento e
Coesão; terceiro, focaliza-se o apoio nos resultados, que passam a ser contratualizados; quarto, descentraliza-
se o planeamento e a execução de programas e projetos, no respeito pelo princípio da subsidiariedade.
São escolhas coerentes, consequentes e corajosas. Assim se lança um novo ciclo, assim se concretiza a
mudança necessária também neste domínio: a mudança para uma agenda que privilegia a promoção da
competitividade da economia portuguesa concentrada na inovação, no crescimento, no emprego, na inclusão
social. Uma agenda de central importância para os portugueses, em boa hora trazida a este debate
parlamentar.
Saibamos agarrar a oportunidade.