I SÉRIE — NÚMERO 52
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Aplausos do BE.
Em nome da seriedade e da clareza do debate, fazemos um desafio às Sr.as
e aos Srs. Deputados do PSD
e do CDS, que é simples: digam aos trabalhadores, a quem prometeram não cortar salários, que os cortes nos
salários e nas pensões são para sempre. Admitam que, em 2015, trabalhadores e pensionistas vão ter os
mesmos cortes e ainda mais outros em cima dos mesmos. Não pedimos para nos dizerem se há ou não
milagre económico, esse milagre ninguém vê e, sobretudo, ninguém sente. É irrealidade, não existe.
Mas há um ponto que tem de ficar claro e por isso pergunto: os cortes nos salários e nas pensões são ou
não temporários? Se são permanentes, digam-no aos portugueses e digam também ao Tribunal
Constitucional, que passam a vida a tentar contornar. Se são temporários, comprometam-se, aqui e agora, a
devolvê-los no próximo ano, quando a troica sair de Portugal. Isso, sim, seria uma medida para resolver os
problemas concretos dos trabalhadores e dos pensionistas em Portugal e para ajudar a economia.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João
Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, o Governo e os partidos
que o suportam, o PSD e o CDS, não se cansam de falar nas exportações, dizendo que representam o
sucesso do País e o sucesso das suas políticas.
Entendemos que as exportações podem até representar o sucesso das suas políticas de empobrecimento,
mas dificilmente representarão o sucesso do País. Ao sucesso de uns quantos contrapõe-se a perda de
direitos de salários e até a perda de emprego por parte de muitos. Por isso, é caso para perguntarmos: se há
tanto sucesso, por que razão há necessidade de cortar direitos a quem produz os bens que exportamos — os
trabalhadores?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Em matéria de exportações, Sr.ª Deputada, julgo que há um exemplo muito
claro de sucesso: o das políticas da agricultura, que, aliás, já foi aqui mencionado hoje.
Este exemplo é esclarecedor enquanto modelo que se tenta impor ao País. Se, por um lado, temos o
sucesso do agronegócio, associado nomeadamente às grandes empresas, por outro, temos o contraste, ou
seja, o recurso recorrente ao trabalho clandestino e ao trabalho escravo assente na angariação de mão-de-
obra barata, e falamos de pessoas que não são mais do que uma espécie de negreiros do século XXI.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Infelizmente, esta é a realidade que conhecemos no mundo agrícola e este é
um modelo que o PCP repudia. Quando a direita fala em modernidade, não nos traz nada que não seja velho
— muito velho, aliás.
Para o PCP o que está em causa é um processo em que se tira a muitos para dar a muito poucos.
Nesta matéria, os dados da Comissão Europeia, que conhecemos recentemente e que foram publicados
hoje, são muito esclarecedores quanto, por exemplo, ao IRC, matéria sobre a qual o PCP insistentemente
pediu dados ao Governo no âmbito do processo legislativo. Aliás, percebemos agora por que é que o Governo
os tentou esconder: é que a Comissão Europeia diz que a reforma do IRC, proposta pelo Governo e
consensualizada com o PS, representará ao fim de três anos uma perda de receita fiscal de 247 milhões de
euros, 247 milhões de euros que são tirados dos cofres do Estado e que vão diretamente para os bolsos das
grandes empresas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!