6 DE MARÇO DE 2014
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Diga lá, Sr. Primeiro-Ministro, se a tal pancada que dói mais não é, precisamente, o corte de 2000 milhões
nos serviços públicos e nos direitos, que estão previstos, mas que não foram anunciados! Ao menos, tenha a
coragem, Sr. Primeiro-Ministro… Sei que é um homem coerente, pelo que leve a sua coerência até ao fim e
diga quais são as medidas que o Governo, agora, não tem coragem de apresentar para apenas tentar
arrecadar o voto dos portugueses.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, quer explorar possíveis
contradições entre aquilo que o Sr. Vice-Primeiro-Ministro referiu a propósito da conclusão da 11.ª avaliação…
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Não! Sei ler!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … e afirmações que tenho recorrentemente produzido quanto à necessidade
de manter o nosso esforço de consolidação orçamental, que ainda terá de prosseguir, uma vez que, tendo
reduzido em mais de 50% o valor do défice nestes três anos, ainda temos défice. Nessa medida, ainda há um
caminho a percorrer.
Sr. Deputado, devo dizer-lhe que isso não tem nenhuma falta de transparência, não há coisa mais
transparente do que isso. Temos sempre dito, desde o início, que esse esforço é para prosseguir.
O Sr. Deputado convida-me, de certa maneira, a anunciar essas medidas antes das eleições europeias. O
Sr. Deputado António José Seguro tentou dizer a mesma coisa por outra via. Julgo que os Srs. Deputados
estão mais preocupados com as eleições do que o Governo!
Risos do PS e do PCP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa é boa!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Estão mais preocupados pela simples razão de que o Governo, a cada eleição
que passa, não deixa de cumprir as suas obrigações e de dizer, com muita transparência, quais são as
medidas que adota.
O Sr. Deputado deve estar a confundir, com certeza, com outro governo, que apresentou um Orçamento do
Estado, não um mês depois, mas vários meses depois de eleições legislativas, para não ter trabalhos. Mas
não é esse o nosso caso, Sr. Deputado. Nos termos da Constituição, iremos apresentar o Orçamento do
Estado para 2015 até dia 15 de outubro, na Assembleia da República. Admito que, talvez para o Sr. Deputado,
que é tão respeitador da Constituição, ou para outros Srs. Deputados, fosse preferível que o Governo, em vez
de apresentar o Orçamento do Estado em outubro, o apresentasse, pelo menos, até abril, para ver se o
Partido Comunista ou outros partidos ainda ganhariam alguns votinhos pelo facto de o Orçamento do Estado
ser apresentado antes. Mas vamos apresentá-lo na data própria!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É só trapalhada!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas isso não nos irá isentar de dizer, com alguma antecedência, quais são as
grandes linhas a que ele deve obedecer.
Sr. Deputado, isso está no próprio Memorando de Entendimento, que estamos agora a encerrar. Quer
dizer, não é possível encerrá-lo sem essa comunicação. Mais do que isso: o Governo tem o compromisso de
apresentar o documento de estratégia orçamental à Comissão Europeia até final de abril. O essencial das
linhas de força do Orçamento para 2015 tem de lá estar contido, portanto esteja descansado. Não tenho
nenhuma necessidade de anunciá-las em janeiro, em fevereiro ou em março, mas até meados de abril o Sr.
Deputado vai conhecer essas linhas de força. Não tenha dúvidas sobre isso.