I SÉRIE — NÚMERO 56
16
O Sr. Primeiro-Ministro: — Os dividendos na mesma, Sr. Deputado. A taxa liberatória sobre dividendos
que existia em Portugal quando tomei posse como Primeiro-Ministro era de 21%. Nesta altura é de 28%.
O Sr. João Oliveira (PCP): — 30% de aumento do IRS!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, o senhor não pode dizer que não fizemos aquilo que devíamos fazer
numa altura de emergência social, que foi pedir uma taxa adicional e um esforço adicional superior àqueles
que têm mais. Isso foi o que nós fizemos.
Sr. Deputado, mas há uma coisa que lhe posso dizer: a minha convicção profunda é a de que, com a
política que o Sr. Deputado advoga, que é a de saída do euro,…
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Não está a falar verdade!
Protestos do PCP.
O Sr. Primeiro-Ministro: — … a reestruturação da nossa dívida — isso posso garantir-lhe — teria
consequências muito piores para os portugueses e, em particular, para os que estão mais vulneráveis.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Deputado, há uma coisa em que, creio, todos temos razão: sempre que as
crises sérias apertam, quem tem mais pode perder muito, mas fica sempre melhor do que quem tem pouco. E
nós temos de pensar com muito cuidado em quem tem pouco. Esses não se poderiam defender de um
processo de ajustamento à bruta, em que o Estado não cumprisse com as suas obrigações, em que
tivéssemos de sair do euro, em que, como dizia, e muito bem, o ex-líder parlamentar do Partido Comunista
Português, se tivesse de voltar à nossa moeda para se fazer uma desvalorização de que hoje ninguém duvida
que não poderia ser inferior a 30 ou 40%. Sr. Deputado, imagine as consequências que isso teria para os
simples cidadãos!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Roubam salários e pensões!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o debate político está a viver um
problema complicado no nosso País. Trata-se do problema do valor da palavra; se o valor do que é dito
corresponde ou não ao que é feito.
Sr. Primeiro-Ministro, eu ouvi o que disse no Congresso do PSD ao anunciar a sua preocupação com a
natalidade. E confesso que tenho um pequeno defeito: tenho alguma memória. Ora, como tenho alguma
memória, lembrei-me do que o PSD tinha anunciado, com pompa e circunstância, nos jornais e na televisão,
em Setembro do ano passado.
Sr. Primeiro-Ministro, trouxe, pois, hoje os três projetos sobre natalidade apresentados pelo PSD em
Setembro de 2013. Diziam: «O Partido Social Democrata vem reconhecer a importância da família e a
necessidade de estímulos que ajudem a impulsionar a natalidade.»
Sabe o que é que aconteceu a estes projetos? Aparentemente, perderam a paternidade. Em outubro, o
PSD pediu para adiar sine die a votação e entretanto o seu Governo aprovou um Orçamento com mais
austeridade para as famílias.
E porque o valor da palavra define o debate político, quero perguntar-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, se o que
disse no Congresso vale e se o Sr. Primeiro-Ministro se prepara para repor o abono de família — sim ou não?