I SÉRIE — NÚMERO 56
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A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada Catarina Martins, tem, de novo, a palavra.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, temos mesmo um problema de
palavra, porque há cinco meses o PSD chegou aqui, ao Parlamento, chegou ao País, e disse: «Vamos reduzir
os impostos às famílias», mas depois fez um Orçamento que prejudica a vida das famílias. E agora o Sr.
Primeiro-Ministro vem fazer propaganda no Congresso do PSD e diz: «Ai, a natalidade é importante!».
Sr. Primeiro-Ministro, o problema do debate político é que a sua palavra não vale nada.
Recordemos o que disse aqui hoje e o que tem dito ao longo dos tempos.
O Primeiro-Ministro disse aqui que não podemos voltar ao nível salarial e ao nível de pensões de 2011. Ou
seja, o Sr. Primeiro-Ministro tem um problema de palavra e tem um problema constitucional, porque os cortes
nos salários e nas pensões foram feitas durante estes três anos sempre com a desculpa de que eram medidas
pontuais por causa do programa de ajustamento, medidas pontuais durante a vigência da troica. Foi isso que o
Sr. Primeiro-Ministro veio cá dizer e agora, afinal, desdiz. O que era pontual é afinal permanente.
Mais: o Tribunal Constitucional autorizou cortes nos salários e nas pensões porque eram transitórios.
Portanto, o que o Sr. Primeiro-Ministro vem cá dizer é que não só a sua palavra não vale — o que era
pontual é agora permanente —, como quer ir contra a Constituição e tornar permanente o que já lhe disseram
que só podia ser transitório.
E — deixemo-nos de eufemismos, Sr. Primeiro-Ministro — todos sabemos o que quer dizer tabela
remuneratória única. Quer dizer, pura e simplesmente, salários mais baixos.
Sr. Primeiro-Ministro, é no Documento de Estratégia Orçamental (DEO), a 15 de abril, que vamos ficar a
conhecer a pancada mais forte que prometeu no Congresso?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem, de novo, a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada, queria apenas dizer que, dado o valor que a
minha palavra tem para a Sr.ª Deputada, creio que não estará à espera com certeza de nenhuma resposta.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada Catarina Martins, tem, de novo, a palavra.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, vejo que o Sr. Primeiro-Ministro, à falta de argumentos,
prefere ficar calado.
Aplausos do BE.
Protestos do PSD.
Porque aquilo que sabemos é que houve projetos que entraram na Assembleia da República; o que
sabemos é que houve adiamento por parte do Governo; o que sabemos é que o Governo não faz aquilo que
diz.
E o que vemos é que, chegados aqui, com o completo falhanço do Governo, o Sr. Primeiro-Ministro não
tem nenhuma resposta para dar.
Sr. Primeiro-Ministro, nós lembramo-nos que o senhor dizia que era em maio que acabava o programa de
ajustamento da troica e que o Vice-Primeiro-Ministro, Paulo Portas, veio aqui dizer que, em maio, íamos ter
uma espécie de novo 1640, uma restauração da independência…!
Ora, face a um Governo que não é, sequer, capaz de responder no Parlamento pelo facto de nunca cumprir
aquilo que promete, o que temos? Qual é a certeza que temos? É que, com um Governo como este, em 1640,
Portugal teria continuado a ser até hoje uma província de Espanha.