I SÉRIE — NÚMERO 56
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não é isso!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Pareceu-me que era isso que queria perguntar, mas, se não era isso, ainda
bem, porque não podemos fazer o Orçamento do Estado para 2015 em março de 2014. Não é possível, nem
é, sequer, aconselhável! Mesmo que quiséssemos fazer um bonito para satisfazer os mais impacientes, que
prefeririam que apresentássemos o Orçamento muito mais cedo, não seria, sequer, prudente, porque o
Orçamento tem de partir de uma avaliação das perspetivas para o ano seguinte, que é prematuro estar, agora,
a formular, ou, melhor, temos de fazer sempre uma certa antecipação do que pode ser o cenário para o ano
seguinte, mas vamos corrigindo essas perspetivas à medida que nos aproximamos da data em que a
evidência da realidade suporta melhores previsões. Claro que, se fizermos essas previsões com base na
informação que temos hoje, temos uma informação muito mais imperfeita do que aquela de que iremos dispor
nos próximos meses.
Mas, Sr.ª Deputada, volto a insistir: temos de exemplificar, nas grandes áreas, aquela que vai ser a
trajetória de consolidação orçamental para 2015 já no Documento de Estratégia Orçamental, que
apresentaremos perante o Parlamento e a Comissão Europeia até ao mês de abril.
Se a Sr.ª Deputada quer contribuir para esse debate e precisa de alguma informação particular, do ponto
de vista macroeconómico, que o Governo possa disponibilizar, disponibilizaremos essa informação a todos os
grupos parlamentares, para que possam também apresentar as suas propostas. Agora, não leve a mal, Sr.ª
Deputada, mas, nestes três anos, temos um passado em que sempre apresentámos as nossas medidas,
enquanto os Srs. Deputados sempre contestaram qualquer medida de ajustamento que pudesse garantir uma
trajetória do défice como aquela que precisávamos e precisamos de obter. Portanto, se tiver de olhar com
algum equilíbrio e algum distanciamento para este debate que aqui travamos, tenho de dizer que aquilo que
ainda não ouvi foi o Partido Ecologista «Os Verdes» dizer: «Muito bem! Então, como é que vamos atingir a
meta de 2,5% para o próximo ano? Qual é a parte que vem dos impostos e qual é a parte que vem da despesa
pública? E, na despesa pública, quais são as grandes políticas públicas que serão atingidas?». Isto é que me
pareceria importante e daria, com certeza, a este debate bastante mais substância do que aquela que, por
vezes, adquire.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Entretanto, os Deputados do Grupo Parlamentar do BE foram abandonando a Sala.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, tem a palavra para intervir, de novo.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o Sr. Primeiro-Ministro só
vê duas coisas à sua frente: impostos e cortes. Esqueceu-se de dizer aqui, ao Partido Ecologista «Os
Verdes», qual foi a parte que veio da economia e da dinamização da procura interna. Não disse! E porquê?
Porque há determinadas alternativas que foram apresentadas, inúmeras vezes, na Assembleia da República,
mas o Sr. Primeiro-Ministro, pura e simplesmente, não as quer ouvir e, como não as quer ouvir, finge que não
existem. O certo é que aquilo para que os senhores contribuíram, permanentemente, foi para o
estrangulamento da economia e a vossa solução foi sempre aumento de impostos e cortes nas carteiras das
pessoas. Foi sempre assim, Sr. Primeiro-Ministro! Não viram outra alternativa! É, justamente, por conhecerem
o historial deste Governo que as pessoas precisam de saber aquilo que o Governo perspetiva para o curto
prazo que aí vem, depois da troica, para perceberem se o Governo vai continuar a sustentar a sua receita em
mais medidas de austeridade. É que, Sr. Primeiro-Ministro, a pergunta que fazemos é esta: este País aguenta
mais austeridade? Que mais austeridade aguenta este País? Espero que o Sr. Primeiro-Ministro não seja
daqueles que responde: «Ah, aguenta! Aguenta, aguenta!».
Depois, Sr. Primeiro-Ministro, há outra matéria que nos preocupa e retenho o facto de não ter respondido
nada relativamente à questão dos cortes dos salários e ao enviesamento das informações que vai dando, já
que disse que eram transitórios e agora passam a definitivos, pelo menos uma boa parte, o que considero
muito, muito incorreto, Sr. Primeiro-Ministro, e os portugueses, certamente, também o consideram.