24 DE ABRIL DE 2014
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Mas, Sr. Deputado, os portugueses, em qualquer caso, se a sua lógica estivesse correta — e não está —,
sempre haveriam de preferir um Governo com sorte do que um Governo com azar.
Risos e aplausos do PSD e do CDS-PP.
Queria ainda dizer ao Sr. Deputado que a sua ideia, que retirou, ao que parece, da reunião que teve com a
troica, de que a austeridade vai continuar e os cortes vão prosseguir, me merece a seguinte resposta: a
austeridade não vai continuar; a austeridade, dentro do quadro da emergência que vivemos, será
progressivamente substituída e aliviada. Significa isto, portanto, que não podemos desequilibrar o novo
patamar a que chegámos, não faria sentido. Isso seria o mesmo que dizer aos portugueses: «Os senhores
estiveram a fazer sacrifícios apenas para temporariamente mostrarmos aos credores que ajustámos, mas, mal
os credores se forem embora, vamos novamente desequilibrar tudo» — isto não faria sentido.
Mas, Sr. Deputado, já tive ocasião de dizer que não teríamos, em circunstância alguma, a perspetiva de
perpetuar os congelamentos salariais, as progressões na função pública ou os cortes progressivos retratados
na contribuição extraordinária de solidariedade.
Agora, o que não podemos fazer — e parece que o Partido Socialista também concorda com isso (e digo
«parece» porque depende de quem fala) — é repor o que tínhamos em 2010, de um dia para o outro. E não é
de um dia para o outro, porque o contexto era este: se o Partido Socialista ganhar as eleições em 2015, não
pode repor, logo estes cortes terão de continuar ainda durante algum tempo.
Sr. Deputado, não digo menos, nem mais, é exatamente assim. Portanto, o quadro em que esta
austeridade vai continuar é aquele que foi definido pelo Partido Socialista — estou de acordo.
Quanto aos cortes prosseguirem ou não, é preciso saber em quê. Se o Sr. Deputado me está a falar em
despesa pública, que não em salários e pensões, de modo a conseguir o equilíbrio orçamental, isso é verdade,
Sr. Deputado. Porquê? Porque o défice público era de quase 10%, em 2010, e nós queremos que o défice
público seja de 2,5%, em 2015. O défice público não desce por milagre, por varinha de condão. Só desce de
duas maneiras: com o crescimento da economia, que possa gerar mais receita fiscal, e, ao mesmo tempo,
desde que o Estado garanta que a sua despesa nominal é contida ou consegue mesmo recuar. Ora, Sr.
Deputado, é isso que precisamos de fazer, e é isso que vamos fazer.
Finalmente, pergunta o Sr. Deputado se posso garantir que uma avaliação independente será realizada
daqui a meio ano. Sr. Deputado, não conheço essa afirmação e, portanto, não vou comentá-la. Mas vou dizer,
porque isso eu sei, o seguinte: quando a troica concluir o seu trabalho, ela sempre garantirá, enquanto 75% da
nossa dívida oficial não for paga, que esse pagamento vai ter lugar. Portanto, uma avaliação haverá sempre,
Sr. Deputado. Não é aquela a que estamos habituados, a cada três meses, mas uma avaliação haverá
sempre.
Quanto ao Fundo Monetário Internacional, uma vez acabada a troica, o Fundo Monetário Internacional
manterá com Portugal o seu relacionamento tradicional. E é sabido que, ao abrigo do artigo 4.º dos Estatutos
do Fundo Monetário Internacional, continuará a haver consultas, por equipas diferentes desta que
acompanham a troica, que garantirão a supervisão macroeconómica do País. E isso, é evidente, terá sempre
lugar — já acontecia antes, aconteceu desde sempre. Desde sempre, Sr. Deputado, desde que fazemos parte
do Fundo Monetário Internacional.
Julgo que respondi a todas as suas questões, Sr. Deputado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado António José Seguro.
O Sr. António José Seguro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, retenho das suas explicações
— e se eu não estiver a interpretar corretamente, o Sr. Primeiro-Ministro fará o favor de esclarecer — que não
está prevista nem se fará qualquer avaliação independente. E não falo de avaliações por parte dos membros
que compõem a troica, falo de uma avaliação independente, dentro de seis meses.
Voltando à questão do salário mínimo nacional, o Sr. Primeiro-Ministro apresentou a sua tese económica e
disse que era mau para a economia, nas condições que referiu, aumentar o salário mínimo nacional. Quer com