24 DE ABRIL DE 2014
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Diz o Sr. Deputado: «Não, isso não pode ser, isso o Governo não vai conseguir fazer. O que o Governo vai
fazer é cortar salários e pensões». Sr. Deputado, deixe de lado essa obsessão com os cortes de salários e de
pensões, porque o País já cumpriu aquilo que era necessário cumprir para que o défice que os senhores
deixaram possa ser corrigido!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do PS.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do PCP.
Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
Pausa.
Sr. Deputado, terá de aguardar um minuto até que se reponha alguma serenidade na Sala, senão a
intervenção do Sr. Deputado fica prejudicada.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, muito obrigado.
Mas também se percebe este barulho. É sempre a mesma coisa. A minha galinha é sempre pior que a da
minha vizinha. Assistimos sempre a esta discussão entre o PS e o PSD. Nunca mais saímos daqui. Ao fim de
37 anos, é muito tempo!
Nestes últimos tempos — e falamos para o Governo, que é o Governo concreto que temos —, e hoje, aqui,
temos vindo a assistir, com um certo espanto, às declarações do Sr. Primeiro-Ministro e de membros do seu
Governo que, se levadas a sério, e se não houvesse eleições, diríamos que estávamos perante uma mudança
de agulha na orientação do Executivo.
«Prioridade às políticas sociais já no imediato pós-troica» — creio que foi isto que foi dito. Já agora, Sr.
Primeiro-Ministro, quer esclarecer o que é essa coisa em concreto? Ou foi apenas um impulso para travar o
impacto daquele relatório do INE que demonstrava que, hoje, cerca de 2 milhões e 500 mil portugueses estão
numa situação de pobreza ou em risco de pobreza? Mas explicará.
Anunciou também a abertura à negociação do aumento do salário mínimo nacional. Hoje,
surpreendentemente, veio aqui dizer «não podemos, porque a troica não deixa, porque está lá escrito…»!
Então, não sabia isso antes de fazer essa declaração pública, Sr. Primeiro-Ministro?!
Disse o Sr. Primeiro-Ministro que vai haver diminuição dos impostos sobre os rendimentos do trabalho em
2016. Nessa data julgo que já não estará cá, pelo menos sentado nesse lugar, e disse também que não vai
haver cortes adicionais…
Sr. Primeiro-Ministro, eu quis dizer que já não estará cá sentado nesse lugar. Não lhe desejo mal
nenhum,…
O Sr. Primeiro-Ministro: — Muito obrigado.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — … a não ser, obviamente, a sua demissão e a sua derrota, mas isso é
natural.
Risos.
Queria lembrar que estas questões e estas promessas de repente caíram por terra porque vem aí o FMI. E
na décima primeira avaliação da troica qual é a perspetiva do FMI? É essa pergunta que também gostaria de
fazer ao Sr. Primeiro-Ministro. Que compromisso é que assumiu com o FMI? É que se não o fizer julgo que
tenho o direito de interpretar que existe um jogo duplo por parte do Governo, ou seja, negoceia com o FMI e
com a União Europeia uma coisa e publicamente vem dizer aos portugueses outra coisa, totalmente diferente.