26 DE ABRIL DE 2014
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Temos, assim, que promover as condições para que cada um pense por si mesmo, pense no lugar do outro
e pense de forma coerente. O que nos implica a todos, instituições, cidadãos e media na educação para a
cidadania e no dever da verdade dos factos da esfera pública, para que o juízo público aconteça e a escolha
inicial e fundadora ocorra.
Sr. Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Abril deu-nos a democracia na força da razão e no
esplendor da forma. Disse-nos que todos os caminhos vão dar ao Homem e que a democracia encontra o seu
teste decisivo, precisamente, nos graus de emancipação de cada sujeito e nas formas concretas de vida.
E é sobre a força do melhor argumento que construímos o novo, que garantimos o reconhecimento do
outro como um fim e não como um meio. E, por inesperados e complexos que sejam os nossos desafios, é
sempre no interior da democracia que eles encontram solução.
Abril chama-nos para a construção de um novo humanismo, o que inscreve o contrato social e os seus
princípios da justiça na realidade deste tempo novo.
Abril chama-nos para a tarefa de integrar o legado da tradição iluminista e republicana na experiência
contemporânea. É a celebração das possibilidades da liberdade, da política geradora e redentora. Sabendo
que, para usar uma expressão da dialética, «a humanidade apenas coloca os problemas que ela sabe
resolver», os problemas carregam em si, afinal, eles mesmos, a evidência da solução.
Sr. Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Sobre o valor moral da autonomia e da escolha
construímos agora os novos paradigmas.
O novo paradigma para os Estados, de formas de associação sobre um direito cosmopolita.
O novo paradigma para a Europa, convocando um quadro comum de garantias sociais a corresponder à
integração política e à convergência orçamental.
O novo paradigma para os movimentos demográficos, com a portabilidade dos direitos sociais e a abertura
de novos canais legais de imigração.
O novo paradigma para uma relação emancipadora entre tempo de trabalho e tempo de lazer, para que o
direito à qualidade de vida integre e liberte as múltiplas dimensões da existência de cada um.
O novo paradigma de humanização do Direito Penal sobre as formas pactuadas, da pena à
ressocialização, e também a abordagem multidisciplinar desta. O Direito Penal é o teste permanente dos
valores constitucionais, dos valores do contrato, os que ditam que todos somos sujeitos em todos os lugares e
todas as circunstâncias.
São tantas as possibilidades da liberdade que estão no significado de Abril!
Sr. Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores: A política é sempre o desafio que é feito pela escolha
à fatalidade. É sempre ação que se atreve, é sempre audácia. Como foi Abril, quando nos fez a todos donos
do nosso destino e resgatou o contrato social num dia de amor.
A nossa gratidão não tem limites.
Aplausos do PSD, de pé, do PS e do CDS-PP.
O Sr. Presidente da República vai dirigir uma mensagem ao Parlamento.
O Sr. Presidente da República (Aníbal Cavaco Silva): — Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Sr.
Primeiro-Ministro e Srs. Ministros, Sr.as
e Srs. Deputados, Digníssimos Convidados, Minhas Senhoras e Meus
Senhores: Celebramos hoje um dos dias mais marcantes das nossas vidas. No percurso pessoal de cada um,
existirão certamente outros dias que são lembrados com especial emoção, mas nenhum outro evoca a nossa
memória coletiva como o dia 25 de Abril de 1974.
Encontramo-nos hoje, aqui, perante uma Assembleia eleita de representantes do povo porque o 25 de Abril
nos trouxe a democracia.
Em todo o País, os portugueses festejam esta data porque o 25 de Abril nos trouxe a liberdade.
Podemos dizer publicamente o que pensamos, podemos reunir-nos e manifestar-nos porque o 25 de Abril
nos trouxe os direitos fundamentais.
Ao comemorarmos os 40 anos do 25 de Abril, devemos recordar o que foi viver sob um regime em que não
existia liberdade, em que os governantes não eram democraticamente eleitos pelo povo, em que o povo não
tinha voz para dizer o que pensava.