I SÉRIE — NÚMERO 85
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no sentido de poder haver uma regulação de fileira, para que possam ser criadas competências, como
aconteceu em relação ao setor do tomate, um dos exemplos aqui referidos?
Sr.ª Ministra, finalmente, coloco ainda uma questão relativa a esta área.
Uma das nossas propostas, no projeto de resolução, é a criação de incentivos fiscais. Sabemos que o
Governo já o fez para o caso do IRC, a Sr.ª Ministra já o anunciou para o caso do IRS, mas, no âmbito do IVA,
no âmbito do IMI e no âmbito do IMT há ou não possibilidade de fazermos alterações a esta matéria, uma vez
que são impostos que incidem sobre a propriedade rústica, quer no momento da transação, quer no momento
da exploração, quer simplesmente no momento da titularidade? Deve ou não haver alterações, de forma a que
o incentivo fiscal seja uma forma de apoio à floresta?
Finalmente, para terminar, Sr.ª Presidente, coloco uma questão que tem a ver com os próximos fundos
comunitários. Ao estarmos a falar também sobre um apoio muito importante para o setor florestal — aliás, uma
das críticas ao PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural) relacionava-se com o facto do desenho que
foi feito para a floresta não ter sido atrativo para o setor e, por isso, ter até de ser alterado quase a meio da
sua execução —, há ou não apoios significativos, no próximo quadro comunitário de apoio, para este setor, e
também para o associativismo florestal, que é uma das recomendações do projeto de resolução? Ou seja,
apoios para este setor em termos de agrupamento de pessoas, uma vez que o problema dos incêndios
florestais verifica-se, sobretudo, no minifúndio e aí é necessário haver um apoio para o seu agrupamento em
termos de exploração.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Marques.
O Sr. Fernando Marques (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra, discutimos hoje o relatório final do Grupo
de Trabalho constituído para analisar a problemática dos incêndios florestais e permita-me que comece por
felicitar os Deputados que constituíram este Grupo e o Relatório que aborda de uma forma exaustiva e
pragmática a questão dos incêndios florestais nas suas várias vertentes.
De resto, é um tema sobre o qual esta Câmara e a Comissão de Agricultura se têm frequentemente
debruçado. Lembro os vários projetos de resolução aprovados em 2012 e o relatório do grupo de trabalho para
analisar a importância da biomassa para a redução do risco estrutural de incêndios florestais e produção
energética, que, de uma forma também clara, já apontava para a importância da valorização da fileira florestal
como uma área estratégica de interesse nacional e apontava as suas deficiências, nomeadamente pelo facto
de mais de 90% da propriedade ser privada, onde abunda o minifúndio com parcelas extremamente pequenas,
uma situação única quando comparada com outros países.
Como já referi, este Relatório faz um diagnóstico perfeito da realidade, assentando a sua análise em
questões-chave como as políticas de prevenção e combate, o sistema nacional de defesa da floresta contra
incêndios e a proteção civil, além de tirar conclusões claras e apontar recomendações do ponto de vista
legislativo e operacional.
Centrando a minha abordagem nas questões da prevenção, diria que o diagnóstico está feito: o abandono
do espaço rural conduziu à falta de limpeza das matas que, por sua vez, conduziu a um aumento da carga de
combustível, o que, naturalmente, provocou um aumento do risco de incêndio.
O problema, quanto a mim, é essencialmente o da gestão dos espaços florestais e de encontrar o modelo,
ou os modelos, de gestão sustentável.
O apoio às comunidades rurais e às famílias é fundamental e deve ser encarado não como mais um
subsídio mas, sim, como o pagamento de um serviço prestado à sociedade, sob o ponto de vista não só
económico mas também ambiental e de conservação da natureza.
Permitam-me que ilustre esta reflexão com um exemplo: um pequeno proprietário, zeloso dos bens que
herdou de seus pais e não gostando de ver as suas propriedades cheias de mato e silvas, contratou os
serviços da associação florestal local e mandou limpar todas as suas pequenas parcelas — 2000 m aqui, 1000
m acolá, 700 m mais além, não totalizando sequer um hectare —, onde gastou mais de 1000 €. Ainda tentou
fazer algumas operações de reflorestação, mas nem pensar, pois, afinal, todas as parcelas estavam na Rede
Natura. Mas aquele homem que passou uma vida a trabalhar e agora regressou à sua terra ficou contente,