I SÉRIE — NÚMERO 95
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e dolorosamente simples a petição de mais de 5000 cidadãos e cidadãs e de mais de 30 associações de
doentes no nosso País.
Este procedimento deveria ser absolutamente normal, mas não é. Inúmeras situações demonstram a troca
de medicação sem justificação terapêutica. A única justificação para estas trocas são as contratações entre as
administrações hospitalares e a indústria farmacêutica. É inadmissível e absolutamente contrário a todas as
boas práticas clínicas.
A esta situação somam-se ainda muitos casos de inexistência de medicamentos nas farmácias
hospitalares, a sua distribuição em doses reduzidas ou ainda o encaminhamento destes doentes para outros
hospitais, bastantes vezes muito distantes do local onde os doentes residem.
Sr.as
e Srs. Deputados: Todos e todas recebemos um e-mail, cujo título e assunto dizia: «Srs. Deputados,
discutam, mas resolvam. Os doentes estão cansados de esperar». O que vamos responder a estes doentes?
É hoje, aqui, que temos de decidir.
O Bloco de Esquerda apresenta um projeto de resolução extremamente claro, porque entendemos que a
Assembleia da República não se deve demitir das suas responsabilidades. A Assembleia da República deve
hoje, aqui, decidir um gesto político, claro e inequívoco diretamente para o Governo. É verdade, voltamos
àquilo que é extremamente simples: cada doente tem de ter acesso ao medicamento mais adequado. É isto
que está nas nossas mãos, hoje, Sr.as
e Srs. Deputados!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rosa Arezes.
A Sr.ª Rosa Arezes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Começo por, em nome do Grupo
Parlamentar do PSD, saudar os signatários desta petição. O exercício de cidadania ativa constitui uma das
múltiplas manifestações da vitalidade da nossa democracia.
Os subscritores desta petição pretendem, como já foi hoje aqui referido, o fim da alteração da medicação a
doentes crónicos realizada pelos hospitais.
Registamos as suas preocupações humanistas, mas, desde já, sublinharam um princípio incontornável que
tem de presidir a este debate: a seleção e utilização de estratégias terapêuticas é uma decisão clínica.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Ora bem!
A Sr.ª Rosa Arezes (PSD): — Consideramos, portanto, que esta é uma matéria que ultrapassa as
competências deste Plenário, tal como entendemos que o Ministério da Saúde não deve pronunciar-se sobre
qualquer opção terapêutica nem interferir nas decisões clínicas.
Protestos do PCP e do BE.
Questão bem diferente é a da salvaguarda da qualidade, racionalidade e equidade terapêuticas.
Ora, esta é uma matéria que tem merecido toda a atenção e sensibilidade da tutela.
Como sabem, o próprio Ministério da Saúde tem apoiado e incentivado a adoção — pela primeira vez no
nosso País — das Normas de Orientação Clínica e do Formulário Nacional do Medicamento.
Trata-se de uma abordagem que contribui para a melhoria e qualidade terapêutica e para a equidade no
acesso a medicamentos, conforme reconhecem, aliás, os próprios subscritores da petição.
Não restam, por isso, quaisquer dúvidas quanto à qualidade do trabalho do Ministério, no sentido de
promover o acesso terapêutico em termos racionais, equitativos e de qualidade.
A título meramente exemplificativo, permitam-me que recorde a promoção e a constituição de órgãos
técnicos que se pronunciam sobre o enquadramento da prescrição de medicamentos.
Recordo também importantes iniciativas do Ministério da Saúde para permitir a introdução de novos
medicamentos, todos eles sujeitos à criação ou ampliação de regimes especiais de comparticipação, todos
eles disponibilizados gratuitamente nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.