27 DE JUNHO DE 2014
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exploração». Não estamos a falar só da regulamentação das que já existem mas a falar de ser pela mão do
Estado que novas formas de jogo vão entrar no País.
Mas o conteúdo da proposta diz mais: passa a permitir a publicidade não só ao jogo online mas também
aos casinos físicos, que, até agora, não tinham publicidade, em benefício dos próprios casinos, dos clubes de
futebol que vão beneficiar com as casas de jogo desportivo.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — E qual é o problema?
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — É uma análise factual, é em benefício dos clubes de futebol, mas
também em benefício da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que, quem sabe se para compensar o fim do
monopólio com os jogos, leva, além disto, uma nova área de negócio, que são as apostas desportivas de base
territorial, vulgo as apostas em cavalos.
Ora, apostas em cavalos, por exemplo, é um tipo de jogo que não existe em Portugal.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não é que seja uma chaga ilegal, que tenhamos que regularizar, não
existe! É o Estado a promover um novo tipo de jogo em Portugal e esta é a questão de fundo, Sr. Secretário
de Estado. Falamos de regularizar uma atividade que existe ilegalmente ou o Governo quer promover novos
hábitos de jogo? Que cultura é esta?! Isto é que é preocupante: que cultura é esta que o Estado está a
promover, que vai da fatura da sorte até às apostas de cavalos? Esta é a questão de fundo. E, já agora, temos
de saber quais são as consequências.
Estamos aqui num debate sobre o jogo online, sobre apostas, sobre póquer, sobre casinos, e não ouvi um
membro do Governo ou da maioria falar da chaga social que é o vício do jogo. Por que é que o moralismo e as
preocupações vêm tanto ao de cima quando falamos de umas características ou de umas atividades e quando
falamos do jogo os Srs. Deputados só se preocupam com o lucro, com o negócio, com a atividade económica,
e não se preocupam em prevenir consequências sociais que advêm do vício do jogo e que está patente nesta
proposta?
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — O vício das drogas não tem mal nenhum!…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Vamos diferenciar o que é regulamentar o que já existe, o que é pôr as
empresas a pagar impostos, o que é prevenir a fraude e o branqueamento, daquilo que é promover o jogo.
Vamos diferenciar estas duas atividades.
Em segundo lugar, a tributação, que é também um ponto importante da proposta. É instituído um novo
imposto especial do jogo online. Bem sei que é equiparável ao que já existe, mas, se calhar, temos de rever o
que já existe, porque não me parece razoável que um jogo de fortuna ou azar, como o póquer, pague 15%
com um volume de apostas até 5 milhões de euros e, depois, pague 30%, a partir do 5 milhões de euros, ou
que apostas desportivas paguem 8% até 30 milhões de euros e 16% a partir de 30 milhões de euros, estando
isentos de IRC e de imposto de selo.
O que estamos a dizer é que as casas de apostas pagam menos imposto do que qualquer um de nós paga
por um pacote de leite, que paga um IVA muito superior a estes 8% ou a estes 16%.
Se calhar, também está na altura de o Governo, se tem tanta vontade de desenvolver esta atividade
económica, impor uma tributação justa a esta atividade económica, e que seja justa perante o resto dos
impostos que os cidadãos pagam pela eletricidade, pelo trabalho e até mesmo pelos lucros dos pequenos
negócios ou comércio que possam ter.
Em terceiro lugar, e última questão, a fiscalização. Parece-nos importante — e esse é um ponto positivo —
que estas empresas tenham de ter sede em Portugal, pois isso parece-nos crucial para a fiscalização. É
indispensável que se controle as contas bancárias através das quais as transferências são feitas, para garantir
que não são feitas em offshore ou em regimes bastante mais benéficos do que o português. Mas também é
preciso perceber que meios, que valências e que reforços é que as instituições e autoridades de fiscalização
vão ter, porque estamos a falar de uma fiscalização completamente nova. Vão ter mais profissionais, mais