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3 DE JULHO DE 2014

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Sr.ª Deputada, como, em qualquer caso, a senhora acredita convictamente no desastre que defende, só

tem de convencer todos os portugueses de que esse desastre não é aquilo que a maior parte dos portugueses

têm pensado, mas isso, evidentemente, será um desafio considerável que a Sr.ª Deputada enfrentará.

Finalmente, Sr.ª Deputada, deixe-me dizer-lhe o seguinte: dos muitos debates que travámos no

Parlamento, nunca vi o Governo a enfiar a cabeça na areia e a negar a realidade.

Sabemos que temos um desemprego intoleravelmente elevado, sabemos que a despesa social é

importante num país que tem um nível de riqueza tão baixo como o nosso, mas, Sr.ª Deputada, para que o

Estado desempenhe essas funções é preciso que as possa financiar. A Sr.ª Deputada não consegue

convencer ninguém de que é fácil financiar essas políticas se não tivermos de pagar aquilo que devemos. Isso

pode acontecer uma vez, mas à segunda vez nem sequer essa escolha lhe é dada, porque se não tiver

acesso a financiamento não pode sequer assumir compromissos.

Sr.ª Deputada, é aqui que a nossa divergência é realmente muito grande, porque as políticas que tivemos

de prosseguir destinaram-se a oferecer um futuro de esperança aos portugueses enquanto aquela que a

senhora defende não faz outra coisa do que fazer os portugueses regressarem a um passado de má memória.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Para fazer uma pergunta, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, quando ouvi a sua

intervenção inicial, fiquei com a nítida sensação, e depois o debate acabou por confirmá-lo, que o Sr. Primeiro-

Ministro fala como se se tratasse de um vitorioso, o que me parece até, de certa forma, confrangedor face à

situação que o País atravessa. De facto, o Sr. Primeiro-Ministro fala única e exclusivamente do que e como lhe

interessa — também já percebemos isso.

Pergunto-me porque é que o Sr. Primeiro-Ministro não terá falado dos níveis da dívida pública em Portugal,

que aumentaram substancialmente desde que este Governo tomou posse. Foram qualquer coisa como mais

60 000 milhões de euros, o que não é coisa para brincar.

O Sr. Primeiro-Ministro, entretanto, fala do desemprego, mas não fala do quadro de formação dos números

do desemprego, porque eu nunca ouvi o Sr. Primeiro-Ministro falar dos níveis de emigração e da forma como

isso se pode relacionar com os níveis de desemprego. Dá-me até ideia que o Sr. Primeiro-Ministro tem

tendência para desvalorizar o fenómeno da emigração! Ora, se falamos de qualquer coisa como 350 000

pessoas à procura de emprego lá fora, porque cá dentro não conseguem, isto, na ótica do Sr. Primeiro-

Ministro, terá ou não repercussão nos níveis de desemprego? Eu gostava de saber, porque há determinadas

coisas que não dá para perceber.

O Sr. Primeiro-Ministro, quando fala dos desempregados, não refere que mais de metade desta gente não

recebe subsídio de desemprego. Como é que se subsiste desta forma?!É também com estas coisas que

gostávamos de ver o Primeiro-Ministro de Portugal preocupado, porque acho que é legítimo pedir isso ao

chefe do Executivo português.

Por outro lado, há outra coisa que talvez fosse conveniente o Sr. Primeiro-Ministro explicar neste debate:

como é que é possível compreender que, nestes três anos terríveis, como todos os qualificam, as grandes

fortunas, as grandes riquezas em Portugal tenham aumentado e os portugueses, na sua generalidade, tenham

empobrecido? Alargou-se a bolsa de pobreza. Uma coisa tem tudo a ver com a outra, porque para se

concentrar riqueza numa minoria tem de se alargar a pobreza a uma vasta maioria. Isto é mesmo assim, está

nos livros, mas o problema, Sr. Primeiro-Ministro, é quando está na realidade.

O Sr. Primeiro-Ministro acha que não, pelo que vai, certamente, explicar o fenómeno.

Naturalmente que o Sr. Primeiro-Ministro terá reparado que, durante o seu mandato, voltou a falar-se de

fome em Portugal. Os níveis de pobreza, de facto, foram extraordinariamente relevantes e isso tem, depois,

implicações com muitas outras coisas. Por exemplo, o Relatório de Primavera do Observatório Português dos

Sistemas de Saúde vem dizer que os níveis de pobreza têm a ver com o aumento significativo de problemas

na saúde. E, Sr. Primeiro-Ministro, os serviços de saúde não estão a dar a resposta necessária, porque, o

Governo deliberadamente desinvestiu no setor da saúde, como de resto disse, e em muitos outros setores.