I SÉRIE — NÚMERO 102
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da contratação coletiva, da tentativa de aumento e de regulamentação dos horários de trabalho, da
generalização da precariedade.
Sucedem-se os ataques à Administração Pública, aos direitos dos trabalhadores e das populações, com
encerramentos e uma degradação geral dos serviços. Ainda na passada segunda-feira, pessoas que
chegaram antes das 9 horas à fila para a segurança social em Lisboa só foram atendidas às 16 horas. Tiveram
que esperar 7 horas, Primeiro-Ministro! E há quem tenha esperado mais! É a isto que chama, como referiu na
sua intervenção, um Estado ágil?!
Por sua vez, o Serviço Nacional de Saúde é golpeado um pouco por todo o País, negando o direito à
saúde, com os doentes autenticamente abandonados nas urgências, esperando horas e horas para serem
atendidos, com carências e falta de meios de toda a ordem, ao ponto de até as famílias terem de levar para os
hospitais as almofadas para as camas dos internados.
Vozes do PCP: — Uma vergonha!
O Sr. Francisco Lopes (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, era a isto que se referia quando falava, na sua
intervenção, de modernização dos serviços?!
E, do outro lado, vemos que o grande capital continua à rédea solta, como se não bastassem as benesses.
Como se não bastassem todos os escândalos da banca, aí temos a situação do BES e aí temos a exigência
de intervenção do Estado para evitar que deixar degradar a situação venha a justificar o injustificável: a
nacionalização dos prejuízos, seja qual for a forma que venham a assumir.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Francisco Lopes (PCP): — A situação do País é chocante, mas o Governo quer ainda mais. A
realidade do rumo da continuação da política de direita e da dedicação nacional é a da degradação
económica, social e política, que afunda Portugal e compromete o seu futuro por muitas décadas! É uma
opção pela exploração, pelo empobrecimento e pelo definhamento do País, pelo favorecimento da
especulação, pelo domínio dos grandes grupos económicos e financeiros, com os escândalos e a corrupção
que lhes estão associados!
A ferro e fogo, custe o que custar para o povo e o País, a opção deste Governo e desta política é pela
dependência e pela submissão à dívida, ao tratado orçamental, à lógica trituradora do euro e da União
Europeia.
Por tudo isto, Sr. Primeiro-Ministro, o estado da Nação evidencia a urgência da interrupção do caminho de
ruína nacional que está em curso e coloca, com cada vez mais força, a necessidade da alternativa patriótica e
de esquerda que o PCP propõe, que incomoda o Governo, mas que é cada vez mais necessária ao País para
garantir o seu futuro.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para formular a próxima pergunta, pelo Bloco de Esquerda, tem a palavra, a Sr.a
Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, quero convidá-lo a retornar à realidade.
Quero convidá-lo a observar a realidade do nosso País e a pronunciar-se sobre ela.
E a realidade de que lhe quero falar tem alguns números, números oficiais do seu Governo: mais de 400
000 desempregados, ou melhor, 412 000, para ser precisa, sem qualquer tipo de apoio; mais de 49 000
pessoas, neste ano, perderam o rendimento social de inserção; mais de 38 000 idosos, só este ano, não os 50
000 desde que o senhor está no Governo, perderam o complemento solidário para idosos.
Sr. Primeiro-Ministro, antecipo-lhe já a sua resposta: não fale em rigor. Os senhores alteraram as regras e,
sendo assim, com a alteração das regras, prejudicaram milhares de pessoas.
Veja bem o caso dos idosos: o valor de referência para ter acesso à prestação foi alterado; aumentaram a
idade para 66 anos em vez dos 65 anos, e de uma forma praticamente administrativa empurraram milhares de