I SÉRIE — NÚMERO 102
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Pois, isso já nós sabemos, Sr. Deputado, mas evidentemente que não tem valor acrescentado para
resolver os problemas das pessoas. E esse é que é o problema! Temos de resolver os problemas das
pessoas, não podemos fazer umas declarações vazias de intenção.
O Sr. Deputado disse também que o modelo está em causa por causa das exportações e que aquilo que
tem acontecido é que, com o aumento do rendimento disponível, consolidado a partir de decisões que
resultaram de acórdãos do Tribunal Constitucional, a nossa procura interna aumentou e que, com isso,
realmente, o crescimento começou a dar de si, que é como quem diz: «Estão a ver? Desde que tenhamos
dinheiro para gastar, a economia cresce.» Ó Sr. Deputado, peço desculpa, mas não é assim!
Pensei que isso já estivesse esclarecido de uma vez por todas!
Protestos do Deputado do PS António José Seguro.
Aquilo que nós tivemos de reduzir, do lado da despesa, porque não estava consentâneo com a
interpretação que se fazia da Constituição, fomos buscar do lado dos impostos, Sr. Deputado! Foi-se na
mesma ao rendimento, não há mais rendimento!
Se vir as contas nacionais, publicadas pelo INE, relativas ao primeiro trimestre, verificará que o rendimento
disponível baixou, Sr. Deputado. Não aumentou, baixou! Mas vai aumentar no futuro, só que não vai aumentar
ficticiamente à custa do crédito e da dívida, tem de aumentar de acordo com os rendimentos que são gerados
na economia.
O Sr. Deputado diz: «Bem, se a economia crescesse mais, recebíamos mais de coleta dos impostos».
Como é que o Prof. Teixeira dos Santos não se lembrou disso?!… Como é que o Prof. Hernâni Lopes não se
lembrou disso em 1983?!… Pois claro, pomos a economia a crescer, recebemos mais impostos, não
precisamos de cortar tanto a despesa e a coisa resolve-se!…
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Milagre!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Por que é que os outros não fizeram esse milagre? Ó Sr. Deputado, parece de
uma ingenuidade extraordinária!…
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Disse o Sr. Deputado Hugo Soares que a modernização da Administração Pública tem de ser feita com
concertação territorial e que a coesão territorial tem de estar também no âmago das políticas de
modernização. Como procurei destacar na minha intervenção, temos todo o interesse em prosseguir políticas
de reorganização dos serviços de atendimento público que prestem um bom serviço, próximo das pessoas,
sem que necessariamente o chamado back office desse serviço tenha a configuração que tem hoje.
É possível, hoje, prestar um serviço próximo das pessoas sem manter as mesmas estruturas que estão
espalhadas pelo território e que estão datadas, fazem parte de uma configuração do Estado e da
Administração que não se adequa aos tempos de hoje.
Claro que todos os que estão agarrados às estruturas existentes e que têm uma visão absolutamente
imobilista daquilo que é a Administração preferem dizer: «Não, não, os senhores só estão a fazer isso porque
precisam de dinheiro». Mas eu digo: «Não, não, nós precisamos de poupanças, mas também precisamos de
fazer um melhor serviço para as populações».
Por isso, a reorganização será feita em conjugação com as câmaras municipais, com os territórios de baixa
densidade na primeira linha da nossa preocupação e com as comunidades intermunicipais. E com elas vamos
fazer mais do que a reorganização de serviços, vamos fazer descentralização de funções do Estado, ao nível
dos cuidados primários de saúde, ao nível dos ensinos básico e secundário ou, mesmo, ao nível da segurança
social e do apoio que é preciso prestar às instituições de solidariedade social. Não há nenhuma razão para
que o Estado central se comporte como se tem vindo a comportar há dezenas de anos.
Como disse, e repito, não há nenhuma razão para que seja o Ministro da Saúde ou o Secretário de Estado
da Saúde a dizer qual é o horário de funcionamento de um centro de saúde.