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I SÉRIE — NÚMERO 102

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Chegou ao fim um programa imposto ao País, mas o que ficou foi um País economicamente destroçado,

dilacerado no plano social e politicamente fragilizado por uma política que alimentou a descrença, a desilusão

e a resignação.

O estado da Nação é hoje a situação de um País que está mais pobre, em retrocesso, mais distante dos

níveis médios do desenvolvimento de outros países da União Europeia.

Um País mais dependente e sujeito ao arbítrio do estrangeiro, condenado a viver hoje e por longos anos

em regime de liberdade condicional por um Governo, por uma política nacional e europeia e pelas

organizações internacionais dominadas pelos senhores do mundo.

O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — É este o resultado das opções dos partidos da troica nacional e dos

seus compromissos.

O estado de uma Nação exigia mais brio patriótico, mais coragem e outra política de afirmação dos

interesses nacionais a quem tem estado, nos últimos anos, ao comando da governação do País e não

resignação, abdicação e colaboração submissa.

A situação do País é, hoje, por isso, a de um País amarrado num colete-de-forças que o manieta, porque

lhe alienaram os seus instrumentos de gestão política, económica, financeira e orçamental, que urge

recuperar, mas também as suas empresas e sectores estratégicos, hoje maioritariamente em mãos

estrangeiras para servir os interesses do grande capital nacional e internacional, e não o País.

É o estado de uma Nação que viu aprofundar as suas graves e persistentes desigualdades sociais e

territoriais, com uma parte substancial do País a caminhar para a desertificação, à medida que tudo se tira ao

interior do País — escolas, serviços de saúde, tribunais, juntas de freguesia.

Nós levantamos o véu da fantasia propagandística das preocupações sociais e do assistencialismo oficial

— hipócrita e falsamente humano — e o que vemos é um País a sangrar, para lá da frieza de todos os

grandes números e das grandes estatísticas, para lá de 1,4 milhões de desempregados, se incluirmos todos

os desencorajados, de 1,6 milhões trabalhadores precários, a maioria com uma vida também ela precária, de

milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza.

São as vidas sem esperança que se percebem na longa fila da «sopa do mosteiro», outra vez vulgarizada.

São as vidas arruinadas que se enxergam por trás das 150 000 casas devolvidas aos bancos, num

processo que ainda não parou, nem se prevê que pare.

São as vidas das centenas de milhares de portugueses emigrantes — nos últimos dois anos emigraram

250 000 — que levam consigo angústias e dramas e muitos problemas de um desemprego de longa duração,

das dívidas que se acumularam, dos desencantos de quem estudou e não vê no seu País saída para a sua

vida.

Há uma saída massiva de gente de que o País precisa e de que não devia prescindir, em geral, para

países que, sem investimento e a custo zero, nos levam o melhor recurso que temos e nos deixam ainda mais

pobres.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Dizem-nos que o desemprego está a recuperar; nós dizemos que,

assim, com esta política de esvaziamento demográfico, a saírem do País 350 portugueses por dia, como está

a acontecer, até a taxa zero de desemprego é possível.

Sob o enganador manto da propaganda da equidade, temos uma política apostada na concentração da

riqueza e em naturalizar as relações de exploração do trabalho sem limites, como forma suprema de

organização social.

Uma política apostada na construção de um modelo de subdesenvolvimento económico e social assente

em baixos salários e com ausência de direitos, como comprova o facto de, em três anos, ter duplicado o

número de trabalhadores a ganhar o salário mínimo nacional, cada vez mais desvalorizado, tal como o salário

médio, devido à sistemática alteração das leis e condições de trabalho e como o evidencia a proposta do