3 DE JULHO DE 2014
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Governo que visa golpear a contratação coletiva por via da aceleração da sua caducidade, num processo que
retirou milhões de euros aos salários para entregar uma parte substancial ao capital.
Não me respondeu o Sr. Primeiro-Ministro, mas eu digo-lhe: foi com cerca de 3000 milhões que os
trabalhadores contribuíram para engordar e safar o capital que se tinha metido em alhadas.
Esta é a real situação de um País governado por uma coligação que se rege por uma «Constituição
sombra» e em confronto com a única constituição legítima que devia ser respeitada e não é, a Constituição da
República Portuguesa.
Também no plano económico e financeiro o País segue o caminho oposto ao da tão proclamada
recuperação. É assim com a dívida. O País continua a afundar-se sob o peso de uma dívida insustentável, que
impede o desenvolvimento e o crescimento económico, com um novo máximo histórico acima dos 130% do
PIB. É assim com a economia e com o regresso a níveis negativos neste primeiro trimestre de 2014.
O que o pacto de agressão era suposto resolver e tanto serviu para o justificar, o défice e a dívida,
permanecem para continuar a fundamentar novas investidas contra o povo e o País. Esta política, além de
injusta, no plano social, tem pés de barro.
Afundaram o mercado interno e com ele arruinaram a vida de milhares de pequenos e médios empresários
e agricultores, em nome do porta-aviões das exportações que não levanta ferro porque o País está sem rumo
e atolado nas águas estagnadas de uma economia rastejante, submetido ao domínio dos grandes interesses
económicos e financeiros.
Esta é outra realidade que define a situação do País: a existência de um Estado dito regulador e
independente na aparência mas, efetivamente, capturado pelo polvo dos grandes interesses, cujos tentáculos
se estendem pelos principais centros da decisão política.
O que se passa com o Banco Espírito Santo e o que a sua crise revela, como já o havia mostrado os casos
do BPN, do BPP, do Banif, do BCP, não são apenas práticas obscuras de manipulação de contas e do
mercado ou de fuga e evasão fiscal, com a passividade do Banco de Portugal nas ligações tentaculares de
domínio económico e político, numa inadmissível promiscuidade para obter apoios públicos, perdões fiscais e
toda uma panóplia de benesses e favorecimentos para os seus negócios.
Pelo silêncio de anos e anos e de tão fundas e estreitas relações, os partidos do arco da governação bem
podiam passar a ser chamados do arco da banca, depois de terem sido do arco da troica.
Estes são acontecimentos que dão razão à insistente exigência do PCP de pôr a banca comercial sob
controlo público ao serviço do País e não desta ou daquela família ou de grupos de acionistas.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Isso é que era!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Nacionalização da banca!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — E não repitam os episódios do BPN e do BPP, nacionalizando apenas
os prejuízos, mas fazendo um controlo público efetivo!
Aplausos do PCP.
O Sr. Primeiro-Ministro está a rir-se?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Só pode ser uma piada!
O Sr. António Filipe (PCP): — Não se ria, Sr. Primeiro-Ministro!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Ainda há pouco mais de um mês dizia que estava tudo bem no BES,
que não precisava de ajuda, não precisava de qualquer intervenção, estava tudo regulado e agora ri-se
perante uma situação que está cada vez mais complicada?! Sr. Primeiro-Ministro, tenha sentido de
responsabilidade, porque estamos a falar de um caso sério que pode custar muito aos portugueses.
Aplausos do PCP.